PADRE LEOMAR: Corpus Christi uma demonstração pública da fé

Solenidade de Corpus Christi, Ano A – Quinta-feira, 08/06/2023

Corpus Christi

Na Liturgia desta Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, veremos, na 1a Leitura (Dt 8, 2-3.14b-16a), na 2ª Leitura (1Cor 10,16-17) e no Evangelho (Jo 6,51-58), que fazer memória da doação do Senhor nos leva à partilha da vida.

Na Igreja primitiva, celebrava-se o sacrifício da eucaristia em uma refeição entre famílias, o sacrário surgiu pela necessidade de levar o pão para os doentes e condenados ao martírio, ‘viaticum’, viagem.

Na idade média, frente às heresias que negavam a presença real de Jesus, desenvolve-se o culto eucarístico e o Papa Urbano IV, em 1264, institui esta Festa para toda a Igreja. Celebra-se esta Festa na quinta-feira depois da festa da Santíssima Trindade, sessenta dias após a Páscoa, quando recordamos a Instituição da Eucaristia na quinta-feira-santa, mas, aqui, com festa solene, procissões, isto é, ‘passeatas da fé’. Assim como o povo da época de Jesus o acompanhava, nós também o fazemos, manifestando nossas dores e alegrias. Os evangelhos narram que, quando Jesus estava indo para Jerusalém, acompanhado de muitas pessoas, um cego a ‘beira do caminho’, ouvindo certos murmúrios, perguntou o que era aquilo e informaram-lhe: “É Jesus de Nazaré que vem passando! Então, o cego se pôs a exclamar: ‘Jesus! Filho de Davi, tem misericórdia de mim!’ Os que caminhavam à frente o repreenderam para que se calasse; entretanto, o homem gritava cada vez mais alto: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (Lc 18, 37-39).

Corpus Christi: Festa do Corpo e Sangue de Cristo – Festa do Pão Eucarístico
Pão, alimento universal. Alimentou o profeta Elias na viagem, alimentou o povo no deserto (ázimos, maná) durante muitos anos, rumo à Terra Prometida. Jesus, o Pão da Vida, nos alimenta, pois somos povo peregrino, rumo ao céu, nossa Terra Prometida: “O Pão da Vida, a comunhão, nos une a Cristo e aos irmãos; e nos ensina a abrir as mãos, para partir, repartir o pão”.

Pão e vinho são produtos da terra e, muitas vezes, dividem as pessoas; mas, quando transformados, unem não só no afetivo, mas também no material, tornam-se meio de comunhão.

Pão é fruto do trabalho humano, quando repartido, torna-se divino, Jesus eucarístico, Deus Conosco, Comunhão, banquete que antecipa o céu, “Cristo tudo em todos”.

O cristão tem necessidade de alimento para conservar a vida, mas tem mais necessidade ainda de um alimento que lhe dê coragem, perseverança e segurança; tem necessidade de um pão que lhe dê força para superar as dificuldades que existem em toda vida. A eucaristia é este pão. É a segurança que Deus nos ama, é a certeza da ressurreição.

Sem alimento, como viver? Como amar? Como trabalhar? Como ser feliz? Jesus, Pão eucarístico, não é só alimento, é presença. Exemplo: o aleitamento materno não é só alimento, é afeto, amor, acolhida etc., que traz consequências psicológicas benéficas.
Jesus, Sangue Eucarístico da Nova Aliança, dá a vida pelas vítimas, enquanto os ídolos querem ‘o sangue’, a vida de seus seguidores.
Para concluir, podemos dizer: Deus não está isolado no céu. Cuida de nos alimentar, saciar.
Vejamos as etapas divinas:
Do céu para o seio de Maria (Verbo se fez carne);
Do seio de Maria para a Manjedoura;
Da Manjedoura para a cruz;
Da cruz para um pedaço de pão e um pouco de vinho;
Do pão e do vinho para a Comunidade, para cada um de nós.

Corpus Christi: importância da eucaristia na vida do cristão
A) Por que celebrar?
1º) Para cumprir a vontade do Senhor: “Desejei ardentemente comer esta Páscoa com vocês” (Lc 22,15). Também para cumprir o mandamento (ordem) do Senhor: “Fazei isto para celebrar a minha memória” (Lc 22,19). Memória de sua Vida – Paixão – Morte – Ressurreição. Jesus recordou aos donos da memória alguns esquecimentos: os pobres, a justiça, a mulher e outros. Memória é missão: “O Espírito do Senhor está sobre mim…” (Lc 4, 18-19).
2º) Porque é nosso alimento espiritual (Pão e Palavra): “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu vivo nele. E como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, assim aquele que me recebe como alimento viverá por mim” (Jo 6, 56-57).
3º) Porque, pelo seu testamento, Jesus nos deixou sua herança: A Eucaristia, sacramento, sua presença real, valor incalculável e o bem maior que a Igreja nos oferece pelo mistério da consagração.
4º) Porque atualiza a presença real de Jesus no mundo.

Como Experimentar a Eucaristia?
No Antigo Testamento, o povo de Israel experimentou a presença de Javé (Deus Libertador) e guardou para sempre na memória e no coração (conheceram a Deus pela inteligência e pelos sentidos). Esta experiência se chamou Páscoa, início de uma nova era, de vida nova: “Este mês será para vocês o começo dos meses, será o primeiro do ano” (Ex 12).

Nós devemos experimentar a Eucaristia como AÇÃO DE GRAÇAS. Ação: atos, movimento; Graça: disposição interior para projetar e acolher aquilo que é belo, puro, bom, alegre etc. No Batismo, nós somos revestidos da graça de Deus, mas, quando pecamos, nos colocamos fora da graça (des–graça = pecado, tragédia, acidente) e fora da comunhão (excomunhão). Mas Deus nos chama à comunhão, por meio do sacramento da reconciliação, nos dando sua misericórdia e seu perdão (Perdão = Comunicação = Comunhão).

C) Consequências da Eucaristia
Festa da Partilha (Comunhão)
Compromisso com o Pão: “Ninguém tenha demais e a ninguém falte o que comer” Ex 12.
Festa da unidade: “Que todos sejam um” (Jo 17,21). Acaba com as divisões.
Festa da Preservação da vida: No Antigo Testamento, o sangue do cordeiro nas portas das casas do povo de Israel era sinal de preservação da vida. E, para nós, é o Sangue de Cristo, o cordeiro de Deus, que preserva a nossa vida hoje e para a eternidade. Para isso é necessário atravessar o mar vermelho do sangue de Jesus em cujas ondas se afoga o pecado.
Reconciliação com o passado desastroso (ervas amargas). Foi na dificuldade que eles experimentaram Deus e iniciaram uma longa viagem para fora do ambiente de pecado.
Energia para o Presente: Jesus atua e onde Jesus atua todos os males são detonados.
Esperança do futuro: antecipação da vinda do Senhor. A vinda do Senhor não é desespero: fim do mundo, fogo, cataclismo, aniquilação, catástrofes etc., e sim a realização dos anseios dos homens. Pode suceder que o mundo acabe numa Eucaristia. Quando a Eucaristia for celebrada em toda a terra, então, esse mundo passará e o Senhor se manifestará em sua glória. Deus novamente habitará no meio dos homens: Aí não haverá mais morte, nem grito, nem dor. Ele será o nosso Deus e nós seremos o seu Povo (Cf. Ap 21, 3-5). Quando isso poderá ocorrer? Quando formos humildes e lavarmos os pés uns dos outros (Jo 13, 13-15).

D) Frutos da Eucaristia
Lição de vida: exemplo do lava-pés, humildade (Jo 13).
Começar sempre de novo: esperança incansável de chegar à plenitude da viagem: “Muitos são os chamados e poucos os escolhidos” (Mt 22,14).
Resposta de Deus aos anseios mais profundos do ser humano (mistérios e problemas). A Eucaristia é o encontro de dois seres eternamente apaixonados: Deus que desce e o ser humano que se eleva. Neste encontro, ocorre a explosão do amor (motivará todas as dimensões da minha existência. Ex: trabalho, estudo, família etc.).
Caminho de Paz e felicidade verdadeiras: Reúnem-se em torno do Senhor os que são seus, os que querem se conhecer, amar, servir, perdoar. A Eucaristia é a morada de Deus no meio dos homens.
Salvação dos homens: Ressurreição, Comunhão dos Santos.
Abre os olhos: Ex: Os Discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35).

E) A EUCARISTIA É AINDA:
– Sacrifício, atualização do único sacrifício de Jesus: “Para a glória de seu nome, para o nosso bem e de toda a Santa Igreja”.
– Consagração total de nossas forças e de nossa vida às atividades na Igreja e na missão.
– Libertação do pecado e mistério da fé.
– Evangelho encarnado: Boa Nova, Nova Criação: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap. 21,5).
– Doação da vida para ganhar a eternidade: dedicar uma hora, das 168 horas que Deus nos dá, por semana, para encontrar-se consigo mesmo, com Deus e com os irmãos.
– “Quem quiser ganhar a sua vida perdê-la-á e quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho ganhá-la-á (Mt 10,39).
– Pão é humano, quando repartido, é Divino. Jesus Eucarístico, Deus Conosco, comunhão, Cristo tudo em todos, banquete que antecipa o céu.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi – PR