Na Liturgia deste Domingo, XXIX do Tempo Comum, celebramos o Dia Mundial das Missões e todos sabemos que a missão da Igreja e do cristão é evangelizar, evangelizar implica ser enviado, enviado a proclamar a Boa Notícia que é Jesus, e Jesus é a salvação, não só da alma, mas também do corpo, do ambiente, enfim, da pessoa por inteiro. Evangelizar é se preocupar com a cidadania das pessoas, pois a pessoa humana é sujeito de direitos: à vida digna, ao trabalho justamente remunerado, à liberdade, à propriedade, à associação, à manifestação das opiniões, ao exercício do culto de Deus, segundo a própria consciência, à participação na vida política da comunidade. Também podemos incluir os direitos Civis: vida, integridade, liberdade, igualdade perante a lei. Sociais: educação, saúde, informação, cultura, meio ambiente. E Econômicos: terra, alimento, trabalho, moradia. A pessoa humana também é sujeito de deveres: de justiça e de caridade. Desde Leão XIII (1878-1903), a Igreja diz que as pessoas carentes devem receber auxílio, não por esmola, mas por justiça, porque têm o direito de viver em termos humanos e dignos.
A Evangelização implica em levar a Boa Nova a todas as realidades, procurando fazer com que as massas se conformem aos critérios do Reino de Deus. Por isso, a ação evangelizadora deve atingir, também, o mundo da Política, entendida, no seu real sentido, como busca e promoção do bem comum. Para tal, encarna-se em instrumentos operacionais, que são os partidos políticos, as organizações populares e outras instituições.
A relação das pessoas com os bens materiais costuma repercutir profundamente na sua vida espiritual: de um lado, a miséria pode embrutecer a pessoa humana e nela excitar paixões, constituindo forte tentação para que viole a lei de Deus; de outro lado, a opulência endurece o coração, dificultando a compreensão dos valores invisíveis e eternos.
Por isso,à Igreja, interessam as normas que regem a vida social e econômica, elas se relacionam com a consciência moral e com o comportamento religioso das pessoas. Pronunciando-se sobre tais questões, a Igreja tem consciência de não estar negligenciando a tarefa religiosa que lhes foi confiada; julga, ao contrário, estar cumprindo um dever: o dever de tornar o Evangelho presente em todas as situações humanas (Paulo VI, PP, 13 e 42 e Catecismo da Igreja Católica, 2032).
A Igreja, para melhor evangelizar, deve estar com os pés no chão (não podemos nos esquecer: nós somos a Igreja), isto é, analisar a realidade, a conjuntura político-social-econômica do País, a partir da fé, do Evangelho, do Projeto do Reino de Deus, da Palavra de Deus, da Prática de Jesus e da Tradição Cristã.
A realidade ajuda a descobrir o sentido mais profundo da mensagem evangélica e a viver com maior autenticidade a nossa fé. Não podemos nos limitar a dizer que a fé proporciona a luz para interpretar melhor a realidade. Jesus “percorria todas as cidades e povoados” (Mt 9,35ss), tinha toda uma pedagogia para evangelizar. Ex: Com a Samaritana, com os discípulos de Emaús etc.
O Evangelho de Jesus tem uma dimensão social tão profunda que deixá-la de lado, ou negá-la, significa desfigurar completamente o anúncio e a prática de Jesus Cristo, o Filho de Deus, razão de nossa fé. Fazer uma opção de Fé cristã, sem assumir um compromisso social na linha da busca da justiça, da solidariedade, da supressão das situações de miséria, da justa distribuição dos bens, da defesa da vida, da opção pelos pobres, da organização dos trabalhadores em defesa dos seus direitos fundamentais, é uma opção de fé incompleta, capenga, insuficiente. Fazer uma opção de fé e colocar-se contra esse compromisso é uma opção de fé falsa. É uma idolatria. A opção de compromisso social é uma graça de Deus, se não a tivermos, se pelo menos não criticarmos os que a possuem, já é um grande avanço. Combater ou depreciar os que caminham por essa direção é combater e depreciar o próprio Deus que vê, ouve e desce para libertar todos os que sofrem as consequências desse mundo injusto e desigual. O que mais machuca são as críticas que vêm de dentro, dos próprios irmãos e irmãs, dos próprios cristãos.
Enquanto é tempo, ouçamos o chamado de Deus, e que ninguém precise apresentar, um dia, diante do Tribunal de Deus, a desculpa de que não sabia que era necessário se comprometer e transformar as realidades temporais. Enquanto é tempo, escutemos o clamor dos pobres e dos que sofrem, pois, caso contrário, “mesmo que um morto ressuscite, não ficaremos convencidos” (Lc 16, 19-31).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá-PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi-PR