Padre Leomar e a Liturgia do XXVII Domingo do Tempo Comum

Liturgia do XXVII Domingo do Tempo Comum,

Na Liturgia deste Domingo, XXVII do Tempo Comum, na 1ª Leitura (Is 5,1-7), o profeta Isaías, por meio da parábola da vinha, narra a história do amor de Deus e a infidelidade do seu Povo. Deus, o dono da vinha, fez de tudo para que o povo vivesse o direito e a justiça, mas o povo só produziu violação do direito, injustiça, corrupção e violência. A decepção foi grande: a vinha só produziu uvas azedas. Carregado de emoção, o dono da vinha diz: “Que mais poderia eu ter feito por minha vinha e não fiz?” Então, ele reage: derruba o muro de proteção, permite que os transeuntes a pisem, invadam-na (Assírios e Babilônios) e a destruam, deportando os israelitas como escravos.

O Evangelho (Mateus 21,33-43) retoma o mesmo tema da vinha, em ambas as parábolas; nós, a Igreja e toda a terra, somos a vinha do Senhor. Deus nos ampara de muitas formas, investe muito em nós e, por isso, espera mais. “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (Lc 12,48). O que ele espera de nós? “Louvores? Cultos? Liturgias? Ritos? O Pai, dono da vinha, não muda, continua querendo frutos. Do que Ele sente falta? Que frutos produzimos? Nossas celebrações levam ao compromisso com a justiça e à transformação da sociedade?

O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), nos fala sobre a liturgia e o compromisso social, tecendo um juízo negativo com relação aos que têm um cuidado ostentoso com a liturgia, a doutrina e o prestígio da Igreja, mas nem tanto com a inserção real do Evangelho nas necessidades das pessoas. Esta é uma grande corrupção com aparência de bem.

“Nalguns, há um cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas não se preocupam que o Evangelho adquira uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da história… Quem caiu nesse mundanismo olha de cima e de longe, rejeita a profecia dos irmãos, desqualifica quem o questiona, faz ressaltar constantemente os erros alheios e vive obcecado pela aparência… Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais” (EG, 95 e 97).

Se os textos da vinha nos dizem que nós somos os vinhateiros responsáveis pelo crescimento e condução da vinha, como foi que ela virou terra devastada pela miséria, fome, corrupção, ódio, violência, guerra e morte? O que estamos fazendo com a “pátria amada”, o Brasil, outrora terra feliz, mas que agora está correndo o risco de virar vinha devastada pela corrupção, pelo egoísmo, pela ambição, pela mentira, pelo preconceito, pela violência de uns e pela indiferença de outros? Nele deveria reinar o direito, mas vigoram impunemente as arbitrariedades, deveria florescer a justiça, mas eis que ela é parcial e causa de derramamento de sangue dos mais fracos e injustiçados. Os vinhateiros homicidas não querem ouvir a voz profética, vivem num egoísmo absoluto, colocam seus interesses pessoais acima de tudo, por isso qualquer mensagem contrária aos seus interesses é incômoda; vivem fechados à voz de Deus que quer falar aos seus corações, por isso “o Reino de Deus lhes será tirado e será entregue a um povo que produza frutos”. Agora, só nos resta esperar por novos vinhateiros que acolham a mensagem do Filho enviado.

Na 2ª Leitura (Fl 4,6-9), vemos que o apóstolo Paulo, na prisão, em meio a conflitos e sofrimentos, não se brutaliza e nem perde a ternura. Paulo apresenta virtudes concretas que os cristãos devem cultivar. São os frutos que Deus espera de sua vinha.