Celebrar a Páscoa é celebrar a vitória da libertação sobre a escravidão, da luz sobre as trevas, da vida sobre a morte e da ressurreição sobre a cruz.
A Páscoa de Jesus é a maior das festas cristãs, é o princípio de renovação, vida nova, primavera espiritual; dá novo sentido à Páscoa dos povos primitivos que celebravam a passagem de estação, do inverno para a primavera, em que a natureza começava a se mostrar, se refazia verdejante, agora, com novas condições climáticas, devido à nova estação do ano. Ela dá novo sentido à Páscoa do Antigo Testamento que celebrava a passagem da escravidão do Egito à liberdade da Terra Prometida. A Páscoa cristã é a realidade nova da ressurreição do Filho que doa a vida e vence a morte, abrindo-nos a possibilidade de fazer a mesma passagem em direção à vida eterna. Em nossa vida de comunidade, a Páscoa continua sendo uma passagem do egoísmo para o espírito comunitário, do ódio para o amor e deste mundo para a vida eterna. Vivendo a Páscoa, lutamos pela nossa libertação das injustiças e diferenças sociais para a fraternidade, para as bem-aventuranças, para a civilização do amor. Neste sentido, Páscoa é:
– Fé na ressurreição de Cristo;
– Fé na nossa ressurreição;
– Fé na ressurreição dos Projetos de justiça.
Nossa postura diante da morte traduz o sentido que damos à vida. Não muito tempo atrás, quando morria uma pessoa, celebrava-se o rito da passagem, morria-se em casa, cercado de amigos e parentes. Hoje, a morte e o enterro são produtos de consumo, frieza, leito anônimo, gavetas no necrotério etc. A pessoa falecida é presença incômoda, a ponto de, em alguns lugares, quando alguém morre no meio da semana, colocá-la no congelador para fazer o velório no final de semana, pois o mercado não pode parar. A racionalidade moderna capitalista nos levou a perder o sentido da vida e da morte, nos levou à frieza da existência. Neste contexto, que a fé possa nos dizer algo que não seja vão: “Se Cristo não ressuscitou, nossa fé seria vã”.
Em muitos lugares, morre-se antes do tempo; a morte não é uma possibilidade remota, ela é predeterminada. Milhões de pessoas são privadas de vida; o mercado capitalista selvagem exige de nossos governos impostos pesados que, por sua vez, são retirados das pessoas que mais precisam; com isso, diminui a qualidade de vida e deixa-se de investir no social. A imposição do mercado sobre as políticas governamentais são ‘cirurgias assassinas’ denominadas de ajustes estruturais ou fiscais. Mata-se à prestação, lenta e cruelmente, como se o direito à vida fosse um luxo. Morte é uma questão política, assim como o Mistério Pascal; ambos são questões que nos levam a lutar pela vida. Ressurreição não é só desfrutar no outro lado, diz respeito à vida na terra: “Eu vim para que todos tenham vida em abundância”. A vida passa pelas vias das mediações políticas: distribuição de renda, reforma agrária, investimento no social, justiça, bem comum, cidadania etc.
A vida é como se fosse um jogo, embora tenhamos o sentimento de que estamos sendo derrotados, no final, a vitória nos é garantida. Ninguém tem o direito de se sentir derrotado, pois somos seguidores de um vencedor. “Em Cristo somos mais que vencedores! Quem poderá nos derrotar?”
A Páscoa, vida nova, começa dentro de nós, pela nossa fé, renovação da mente – conscientização, que nos leva a ser agentes de transformação. A consciência ‘crística’ transforma a realidade e nos leva a uma comunhão universal, a um mundo novo, no qual todas as aspirações serão realizadas, isto só será possível “quando Cristo for tudo em todos” (Cl 3, 11).
Temos, no Catecismo da Igreja, como dogma (verdade) de fé, a seguinte afirmação: “Creio que Jesus nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia”. Desde a comunidade primitiva, a igreja tem consciência de que a missão redentora de Jesus se estende a toda humanidade de todos os tempos e de todos os lugares. “A Boa Nova é anunciada aos mortos a fim de que eles vivam pelo Espírito a vida de Deus, depois de receberem na carne mortal, a sentença comum a todos os homens” (1Pd 4,6). Ou ainda: “Ao nome de Jesus todo joelho se dobre no céu, na terra e nos confins do mundo. Ele detém a chave da morte” (Fl 2, 10 e Ap 1, Jesus Cristo passou pela porta daquilo que mais nos aterroriza: a morte. Passou e a destruiu. “Sol do alto que nos veio visitar para iluminar todos os que jazem nas trevas e nas sombras da morte” (Lc 1, 68). Em Cristo, todo medo foi superado. A morte já não é a mesma coisa que antes, porque a vida está no meio dela, tanto para os que morreram antes, como para os que viriam depois. Perante Cristo, ninguém tem privilégio cronológico.
A ressurreição de Cristo não foi produto da fé (credulidade) dos apóstolos, eles estavam abalados, com medo, incrédulos. Nasceu sob a ação da graça divina, da experiência de Jesus ressuscitado. Sepulcro vazio é sinal e não prova. Também por estes fatos é impossível interpretar a ressurreição de Cristo fora da ordem física e não reconhecer como um fato histórico.
Enfim, a ressurreição de Cristo é o princípio da nossa ressurreição, cumprimento da promessa do Antigo Testamento e ‘Dia do Senhor’. Reino de Deus que se concretizará no final da nossa existência, “os mortos levantarão”.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi – PR