Na Liturgia deste Domingo, V do Tempo Comum, veremos, na 1ª Leitura (Jó 7,1-4.6-7), que Jó, homem que crê firmemente em Deus, é atingido, no corpo e na alma, por um ‘furacão‘ de sofrimentos. As desgraças atingem também sua família. Nesta situação, sua esposa e seus amigos não o compreendem e se opõem à sua fé. Jó, então, sente que Deus se cala e está ausente. Sem perspectivas, cai na solidão e no abandono.
Na época, alguém ser atingido por doenças era considerado castigo de Deus e, devido à impureza física, tinha que se manter afastado das demais pessoas, com isso, o doente carregava a dor moral, a vergonha e o peso de ser um pecador. Purificar-se no Templo custava caro e os pobres geralmente não podiam, pois não podiam comprar os animais para o sacrifício (Maria e José oferecem pombinhos), portanto, teriam que se conformar em viver como ‘excluídos’. Neste sentido, quando estas pessoas eram acolhidas e curadas por Jesus, eram libertas de dois pesos: físico e moral.
Diante do sofrimento, as pessoas podem culpar Deus, ou ver nisso uma chance de encontrá-lo. Jó, embora o abismo de seu sofrimento pessoal, não fecha os olhos e o coração para a grandeza de Deus. O sofrimento torna-se, assim, meio de encontrar Deus e, ao mesmo tempo, a miséria humana.
No sofrimento, nos identificamos com Jesus:?na dor física: chicotes, espinhos, cravos, cruz. Na dor psíquica: ver o medo dos discípulos, traição, perdição dos Judeus, ver as lágrimas de sua mãe etc.
Viver uma existência sem fé torna a vida somente um ‘furacão’. O conhecimento de Deus, sem a própria miséria humana, produz orgulho. Também, o conhecimento da própria miséria humana, sem o conhecimento de Deus, produz desespero.
Na 2ª Leitura (1Cor 9,16-19.22-23), o Apóstolo Paulo reconhece que a pregação do Evangelho não é um meio para obter glória, mas, sim, uma necessidade. Neste texto, temos o perfil do que deve ser um agente de pastoral e, também a consciência de que, por mais virtuoso e dedicado que seja um evangelizador, só uma pequena parte dá resultados: “Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns”.
No Evangelho (Mc 1,29-39), vemos que a Comunidade apresenta a Jesus o sofrimento das pessoas: “A sogra de Simão estava de cama, com febre; e sem tardar, falaram-lhe a respeito dela”. O poder de Jesus se manifesta para curar a pessoa por inteiro, corpo e alma, e a pessoa curada se coloca a serviço da Comunidade: “Aproximando-se ele, tomou-a pela mão e levantou-a; imediatamente a febre a deixou e ela pôs-se a servi-los”. Livres para servir melhor.
O sofrimento será sempre um mistério, Jesus não elimina o sofrimento, mas nos ensina a carregá-lo com amor e esperança, para que dê frutos de vida eterna.
Rezar pelos doentes é também se importar com o estado dos hospitais, com a miséria, com a fome, com a exclusão. Curar é também ser sensível a toda a problemática da saúde, às políticas públicas, aos programas sociais, para que estejam a serviço da cidadania e devolvam a dignidade aos seres humanos. “Eram as nossas doenças que Ele carregava, eram nossas dores que Ele levava em suas costas” (Is 53,4).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças – Sarandi – PR