Padre Leomar Montagna fala sobre “Como Viver a Religiosidade em Tempos de Pandemia”

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Padre Leomar Montagna fala sobre "Como Viver a Religiosidade em Tempos de Pandemia"

VIVER A ESPIRITUALIDADE EM TEMPO DE PANDEMIA 

Por: Pe. Leomar Antonio Montagna – Arquidiocese de Maringá

Já são mais de três meses que estamos vivendo com grande insegurança, devido à ameaça do covid-19, o coronavírus, e, em tempos de crise, temos a impressão de sucumbir. Medo de sermos infectados, ameaça do desemprego, decepção com governantes, o horizonte utópico se apaga e alguns valores perdem a credibilidade. É como turbulência de avião: não temos o controle de quando cessará e, em qualquer direção que se olha, há um imenso vazio. Se compararmos essa realidade com um jogo de futebol, parece que estamos perdendo por um imenso placar desfavorável. Mas penso que é perante essa realidade que entra o testemunho de nossa fé, de nossa vivência espiritual, pois é por meio dela que nos vem a força interior, cultivada na oração e/ou na meditação, que nos mantém vivos e animados. É pela espiritualidade que alimentamos o amor que nos une à família, a autoestima profissional, os valores que regem nossas atitudes e esperanças, sonhos e projetos. É na espiritualidade que movemos nossos passos em direção ao futuro. Estamos enfrentando uma guerra, sem armamentos bélicos, sem tiros, sem trincheiras, pois o inimigo é invisível. Como vamos vencer essa batalha?

Ligiane Ciola conversa com Padre Leomar Montagna sobre o tema

Ganharemos esta batalha somente se a enfrentarmos, por exemplo, valorizando a ciência com projetos de incentivo à pesquisa, investindo nas universidades e valorizando nossos educadores e agentes da saúde com remuneração justa e digna. Essa guerra também só será derrotada se houver investimento em infraestruturas de atendimento à saúde e políticas públicas que garantam a dignidade da vida de forma integral. O maior patrimônio de um estado de bem-estar será permitir que todos os cidadãos desfrutem dos direitos básicos que garantam uma qualidade de vida saudável. Cabe lembrar que não podemos só exigir dos poderes públicos nossos direitos, também temos que cumprir nossos deveres com responsabilidade, por exemplo, cuidar da higiene, usar as máscaras, praticar distanciamento social, viver a solidariedade e acentuar nossos momentos de leitura e meditação individual. Penso que o desafio que estamos passando deve nos levar à percepção de que os valores maiores não estão distantes de nós, na produção de petróleo, nos  luxos externos, na moda e noutros penduricalhos. Os valores que necessitamos reforçar agora estão em nossa casa, em nossa morada, em nosso lar, são nossas relações, a ternura, a paciência e o amor para com os que estão próximos de nós. Perante essa pandemia somos convidados a uma grande viagem para dentro de nós, para sentir nossa interioridade. Nessa viagem, perceberemos quanto é importante a educação e a proximidade com quem faz história conosco e nem sempre foi notado e  valorizado suficientemente, como é o caso de nossos professores. Essa viagem será ocasião para perceber que nossos heróis e “mitos” não são os desvairados carentes de razão, mas sim os que lutam incansavelmente no mundo da educação, da saúde, da cultura etc., e nem sempre são valorizados, e que, muitas vezes, trabalham sem condições dignas, inclusive, sem remuneração justa. Penso que, nós cristãos, podemos nos perguntar: Que lição podemos tirar para nossa vida individual e coletiva diante de tudo isso? Pensamos na brevidade da vida relativizando as coisas temporais? Será que, enquanto humanidade, estamos vivendo e reproduzindo uma sociedade de acordo com o Projeto do Reino que Jesus anunciou? O que podemos e devemos fazer? Além de algumas iniciativas dos governos, estamos vendo a solidariedade e a empatia de muitas pessoas. A espiritualidade nos diz que devemos enfrentar esses problemas juntos, como família: “Um por todos, todos por um, todos por todos, o tempo todo”. Outros pontos necessários que devemos abordar nesse momento de pandemia – Um olhar de compaixão para todas as famílias enlutadas por causa desse vírus;– Um olhar de solidariedade aos que estão infectados pelo coronavírus; – Um olhar de gratidão aos profissionais da saúde e segurança (cansados, alguns afastados dos familiares, alguns trabalham com roupas de prevenção inadequadas, outros enfrentam a deficiência hospitalar etc.). Médicos, enfermeiros, policiais e bombeiros são anjos de Deus que arriscam suas próprias vidas em condições extremas para salvar vidas. Por isso, todo o nosso carinho e gratidão nunca serão suficientes. Só Deus pode dar a recompensa! – Um olhar de empatia aos que são mais penalizados pela situação econômica, na questão de alimentação, moradia, trabalho, também pela solidão e pelo medo do amanhã; – Um olhar de clamor, pedindo a Deus sabedoria para as autoridades para que tenham discernimento frente às decisões e que estas sejam para salvar vidas. – Um olhar sobre os idosos que sofrem a ausência de familiares, de pessoas próximas e da comunhão eucarística, em muitas comunidades; – Um olhar sobre as crianças que, algumas ainda não entendendo o que está acontecendo, sofrem a precariedade do ensino escolar e a incerteza da continuidade dos encontros catequéticos. Se o coronavírus nos fizer refletir sobre esses pontos, penso que já teremos um efeito curativo, pois nos faz pensar, individualmente e como família humana, em viver mais solidários e respeitar nossos semelhantes. Assim, poderemos concretizar o sonho de Deus de construir “Um mundo sem senhor e sem escravos, um mundo de irmãos”. Como podemos enxergar coerentemente aos olhos da fé tudo que está acontecendo? “Aos olhos da fé devemos ver a ação de Deus em tudo. Ele está presente em tudo o que acontece, mesmo que seja algo aparentemente absurdo, como a morte de um inocente na cruz (Jesus). A fé nos ensina, além disso, que tudo concorre para o bem dos que creem e amam a Deus. Pois Deus sabe tirar o bem de situações que são ruins, como a morte na cruz. Foi passando pela cruz que Jesus ressuscitou. Morrendo, destruiu a morte. A fé aponta para o mistério pascal que está impresso em todas as realidades, também nessa de pandemia. É um momento de sofrimento, mas Deus fará surgir uma luz. A vida tem a última palavra, Deus tem a última palavra, essa é a visão da fé” (Dom Pedro Carlos Cipollini, bispo de Santo André e presidente da Comissão

Episcopal para a Doutrina da Fé da CNBB. clique no LINK para acessar diretamente no site da CNBB

Viver a espiritualidade é confiar que Deus está sempre pronto a nos levantar. “A MÃO QUE NOS

LEVANTA SEMPRE É A MISERICÓRDIA: DEUS SABE QUE, SEM MISERICÓRDIA, FICAMOS CAÍDOS

NO CHÃO; ORA, PARA CAMINHAR, PRECISAMOS DE SER POSTOS DE PÉ” (Papa Francisco). A Ele

entregamos nossas dores: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e carregou as nossas

dores” (Is 53,4). “Pois Deus é cheio de bondade e de misericórdia, ele perdoa os pecados no dia

da aflição. Ele é o protetor de todos os que verdadeiramente o procuram” (Eclo 2,13).

ORAÇÃO DE CLAMOR A DEUS PELAS DORES DA HUMANIDADE

Senhor, ouve nossa súplica pela dor da humanidade,

Sem Ti, não haverá horizontes, e o nosso coração estará desamparado.

Senhor, olha a dor de todos os que estão infectados pelo coronavírus e outros males.

Senhor, olha a dor de todos os familiares que perderam, nestes dias, seus ente queridos.

Senhor, olha a dor de todos que estão tomados pelo medo do amanhã.

Senhor, olha a dor de todos os profissionais da saúde, que se sentem cansados e limitados

perante o mistério da doença e da morte.Senhor, olha a dor e a insegurança dos que sofrem as consequências desse vírus, sejam elas

governamentais, econômicas, psicológicas, sociais ou espirituais.

Senhor, nós confiamos em Ti, somente em Ti podemos viver, nos mover e existir.

Senhor, somos a tua geração, somente em Ti encontraremos a vida e na Tua luz veremos a luz.

Senhor, nós cremos que, pelo teu sangue derramado, verdadeiramente, curarás nossas

enfermidades e, novamente, tomarás sobre Ti as dores do mundo, pois só Tu sabes quanto essas

dores doem em nós.

Senhor, abençoa-nos com a Tua cura, com a Tua paz e com o Teu amor. Amém.

Que Deus Pai Todo-Poderoso tenha misericórdia de nós e do mundo inteiro e venha

urgentemente em nosso socorro! Amém.

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