Na Liturgia deste Domingo, XXX do Tempo Comum, na 1ª Leitura (Ex 22,20-26), o autor bíblico indica o modo de viver o amor de Deus. Apresenta um bloco de leis referentes aos deveres para com o próximo mais necessitado e desprotegido: estrangeiros, viúvas, órfãos e pobres, estes não podem se defender, devem ser protegidos pelo direito. Essas leis condenam a exploração da miséria e estão voltadas para garantir as necessidades vitais das pessoas.
Por meio deste texto bíblico e muitos outros, sabemos qual é a opção de Deus. A Igreja, “Povo de Deus”, também deve fazer a opção pelos mais fragilizados da sociedade. Com quais meios? Não apoiar e nem repetir esquemas de dominação, incentivar políticas públicas de inclusão, trabalhar pela consciência cidadã e pela mobilização social em vista de mais inclusão social nos projetos políticos de governos: “A principal lição desse processo no qual os direitos são reconhecidos, mas pouco implementados, é que só prevalecem, na agenda da política social, os direitos respaldados pela consciência de cidadania e pela participação política de entidades e movimentos sociais organizados. São eles que, em última instância, resgatam as conquistas jurídicas para a vida prática” (CNBB, Doc. 69, n° 52). A participação cidadã implica o reconhecimento e o gozo de direitos e o cumprimento de deveres. Cada direito corresponde um dever. Quem não cumpre com seus deveres tem pouca moral para cobrar os próprios direitos. O exercício da cidadania se expressa na responsabilidade social.
Enfim, a Igreja tem uma grande responsabilidade diante dos pobres e excluídos. São João Paulo II já nos dizia isso em seu documento sobre a Solicitude Social: “A Igreja, está obrigada, por vocação, a aliviar a miséria dos que sofrem, próximos e distantes, não só com o supérfluo, mas também com o necessário. Nos casos de necessidade, não se pode preferir os ornamentos supérfluos das igrejas e os objetos preciosos do culto divino; ao contrário, poderia ser obrigatório alienar esses bens para dar de comer, de beber, de vestir e casa a quem disso está carente” (SRS, 31).
Na 2ª Leitura (1Ts 1,5c-10), o apóstolo Paulo, acentua que a comunidade cristã é verdadeiramente missionária quando abandona os falsos deuses e acolhe com alegria a Palavra de Deus.
No Evangelho (Mateus 22,34-40), Jesus faz do amor a Deus e ao próximo um único mandamento: essa é a novidade cristã. Neste trecho do evangelho, Jesus proclama o mandamento do amor aos que o odeiam. De fato, os grupos religiosos da época vieram a Jesus, não para se instruir, mas para desfazer Dele: “armaram-lhe uma cilada”. Jesus apresenta que os dois mandamentos são iguais, o segundo é explicação do primeiro. Neste sentido, o amor ao próximo é o único modo que o cristão tem à sua disposição para testemunhar ao mundo, a exemplo de Cristo, o amor a Deus: “Quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,3).
Um questionamento que devemos nos fazer: A liturgia ou outros segmentos pastorais de que participamos estão nos ajudando a abrir os olhos e o coração para amar mais intensamente nossos irmãos e irmãs? Um dos critérios para saber se houve a experiência de Deus é ver se a caridade aumentou, se houve maior encaixe na pastoral, maior abertura, sensibilidade com os que sofrem, integração na comunidade, facilidade em acolher, perdoar etc. O amor a Deus é fonte de serviço ao próximo, e o amor ao próximo deve ser expressão concreta do nosso grande amor a Deus. A Constituição Pastoral Gaudium et Spes (Alegria e Esperança) do Concílio Vaticano II, sobre a Igreja no mundo atual, nos diz: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.