Na Liturgia deste II Domingo da Páscoa, veremos, na 1a Leitura (At 2, 42-47), que a Comunidade Cristã é um espaço privilegiado para o encontro com Jesus ressuscitado. O texto mostra o retrato da comunidade continuadora da missão de Jesus. Jesus, agora, está vivo nas ações da comunidade e as pessoas aderem a esse novo projeto que traz em si algumas novidades frente à sociedade da época. Essas novidades são:
A partilha: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum… Nem havia entre eles nenhum necessitado” (At 4, 32s).
A igualdade: “Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3,28).
A oração: “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações… Diariamente, todos juntos frequentavam o Templo… Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação” (At 2, 42ss).
A salvação: É para todos. A vontade do Pai é que todos, sem exceção, tenham a vida eterna.
Na 2ª Leitura (1Pd 1, 3-9) o Apóstolo Pedro nos convida a louvar a Deus, porque, graças a ressurreição de Cristo, renascemos para a vida nova.
No Evangelho (Jo 20, 19-31), Jesus se revela na Comunidade, num contexto de ‘domingo’ (novo mundo): “Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana… Jesus veio e pôs-se no meio deles… Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez reunidos…” (Jo 20, 19; 26).
Jesus está vivo, para todos (oculares x outros), na Comunidade, e é na Comunidade que Tomé faz a experiência de Deus. Inicialmente, Tomé não estava na Comunidade. Por quê? Porque Jesus estava morto, ele estava abalado, não era rejeição a Deus, mas buscava a certeza da fé. Depois de ouvir, ele crê, professa, entrega sua vida, foi mártir. A fé brota da dor, das provas de amor, não só das evidências sobre Jesus e das grandes liturgias. Antes, na fraqueza da fé, ele dependia de sinais, de milagres, depois ele entende que os sinais nos são dados “para que o mundo creia em Jesus”.
Hoje, também, celebramos o domingo da ‘Divina Misericórdia’.
A palavra misericórdia, em latim, vem da expressão ‘miser cordis’, ou coração de pobre. O Antigo Testamento, ao falar de misericórdia, não usa a palavra ‘coração’, mas útero (rahamim). O misericordioso é aquele que tem espaço interior para acolher a vida, as pessoas, isto é, quem tem bondade, piedade, compaixão, perdão e clemência, enfim, um coração bondoso e repleto de amor voltado para as misérias alheias. Ser misericordioso é ter um coração piedoso voltado para as misérias e desgraças de outrem; na pratica, é lutar, fazer tudo que estiver ao alcance para resgatar alguém de seu estado miserável.
A Festa da Divina Misericórdia é uma herança espiritual do Papa João Paulo II, “Apóstolo da Divina Misericórdia”. O núcleo central de seu longo pontificado foi consagrado a apresentar o rosto de Jesus misericordioso. Toda sua missão a serviço da verdade sobre Deus e sobre o homem e da paz no mundo se resume a este anúncio, como ele mesmo disse em Cracóvia Lagiewniki, em 2002, ao inaugurar o grande Santuário da Divina Misericórdia: “Fora da misericórdia de Deus não há outra fonte de esperança para os seres humanos”.
O Papa Karol Wojtyla faleceu na noite de dois de abril de 2005, quando a liturgia já estava celebrando o segundo domingo da Páscoa, declarado, por ele mesmo, em trinta de abril do ano 2000, como Domingo da Divina Misericórdia. O Papa polonês havia anunciado essa decisão na canonização de Faustina Kowalska (1905-1938), religiosa de sua terra, definida pelo Papa Joseph Ratzinger como “Mensageira de Jesus Misericordioso”.
Sua mensagem, como a de Santa Faustina, apresenta o rosto de Cristo, revelação suprema da Misericórdia de Deus. Contemplar constantemente esse rosto: esta é a herança que nos deixou, que acolhemos com alegria e fazemos nossa.
“A misericórdia é na realidade o núcleo central da mensagem evangélica, é o próprio nome de Deus, o rosto com o qual Ele se revelou na antiga Aliança e plenamente em Jesus Cristo, encarnação do Amor criador e redentor. Este amor de misericórdia ilumina também o rosto da Igreja e se manifesta, seja através dos sacramentos, em particular o da Reconciliação, seja com obras de caridade, comunitárias e individuais. Da misericórdia divina, que pacifica os corações, surge, também, a autêntica paz no mundo, a paz entre os povos, culturas e religiões. Como Irmã Faustina, João Paulo II se converteu por sua vez em Apóstolo da Divina Misericórdia” (Bento XVI, 30/03/08).
*Exortação Apostólica Ecclesia in América, 67.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi – PR