PADRE LEOMAR: Todos somos cercados de fraquezas, por isso devemos ter compaixão pelos outros

"Reflexão litúrgica: segunda-feira, 20/01/2025, II

arte: Arquidiocese de MARINGÁ

Na Liturgia desta segunda-feira, 2ª Semana do Tempo Comum, na 1ª Leitura (Hb 5,1-10), a Palavra de Deus nos diz que todos somos cercados de fraquezas, por isso devemos ter compaixão uns pelos outros. Na grande família humana, somos todos por um, um por todos, todos por todos o tempo todo.

O Apóstolo Paulo afirma que a nova Aliança, plena e definitiva, se realizará em Jesus Cristo. A Paixão é vista aqui como a mais solene prece de intercessão e o mais sublime ato de obediência.

No Evangelho (Mc 2,18-22), Jesus explica a utilidade do verdadeiro jejum, pois o jejum caracterizava o tempo de espera, mas, com Jesus presente, esse tempo havia terminado, era hora da festa de casamento, da nova e alegre relação entre Deus e os seres humanos. A atividade de Jesus mostra que o amor de Deus vem para salvar a pessoa humana na totalidade e não para manter as estruturas que sugam o ser humano. A novidade rompe estas estruturas simbolizadas pela roupa e barril velhos. Jesus não veio para reformar; Ele exige mudança radical. Sendo assim, Jesus não renega a prática do jejum, mas o renova em suas formas, tempos e conteúdo.

Hoje, existem muitas formas de jejuns: jejum político e social (estruturas de miséria), jejum saudável ou ideológico (vegetarianos), jejum patológico (anorexia); jejum estético (para manter a forma física). Existe, sobretudo, um jejum imposto pela necessidade: o dos milhões de seres humanos que carecem do mínimo indispensável e morrem de fome. Por si mesmos, estes jejuns nada têm a ver com razões religiosas e ascéticas. No jejum estético, às vezes, se mortifica o vício da gula só por obedecer a outro vício capital, o da soberba ou da vaidade.

É importante, por isso, tentar descobrir o genuíno ensinamento bíblico sobre o jejum. O jejum, por si, é algo bom e recomendável; traduz algumas atitudes religiosas fundamentais: reverência ante Deus, reconhecimento dos próprios pecados, resistência aos desejos da carne, solicitude e solidariedade para com os pobres etc. O jejum bíblico é a postura humana diante das coisas, do ter e do consumir. É ser maior que as coisas. Ter domínio de si. Privar-se de algo em benefício do outro, sentir e comprometer-se com os que são privados de acesso aos bens básicos.

Vivemos, hoje, em uma cultura dominada pelo materialismo e por um consumismo extremo. O jejum ajuda a não nos deixar reduzir a simples consumidores; ajuda-nos a adquirir o precioso fruto do Espírito, que é o domínio de si; predispõe-nos ao encontro com Deus que é espírito, e nos faz mais atentos às necessidades dos pobres.

Mas não devemos esquecer que existem formas alternativas ao jejum e à abstinência de alimentos. Podemos praticar o jejum do cigarro, do álcool e bebidas alcoólicas (que beneficia não só a alma, mas, também, o corpo), um jejum das imagens violentas e sexuais que a televisão, os shows, as revistas e a internet nos lançam diariamente. Lembremo-nos que Jesus nos disse que estas espécies de demônios modernos não se vencem senão com o jejum e a oração.

Para concluir, coloco, a seguir, como praticar alguns jejuns específicos?

– Jejum da língua: evitar falar o que não se deve: fofocas, maledicências, piadas maldosas e inconvenientes etc. Quando falarmos a alguém um fato acontecido, devemos passar pelas três peneiras: “É verdade? É necessário? Vai fazer bem?” Outro exemplo é o saco de penas, depois de espalhadas, dificilmente as recolheremos de volta (Santo Afonso).

– Jejum dos passos: evitar frequentar lugares inconvenientes a um bom cristão. Não se isolar, mas ir ao encontro dos que precisam: doentes, carentes, idosos etc.

– Jejum da visão: deixar de lado aquilo que não engrandece nossa alma (vida interior). Selecionar melhor o que vemos na televisão, na internet etc. Ver, ler e ouvir coisas sadias.

– Jejum do gosto: evitar aqueles alimentos ou hábitos que mais apreciamos ou que nos prejudicam: doces, sorvetes, bebidas, cigarros, drogas etc. Praticar gestos de caridade, ajudar famílias, pastorais etc.

– Jejum do coração: buscar sempre o desapego às coisas que nos atrapalham seguir a Cristo. Buscar a comunhão com Deus, por meio da Palavra, da Oração e da Contemplação.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

Pe. Leomar Antonio Montagna

Presbítero da Arquidiocese de Maringá-PR

Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi-PR