Na Liturgia deste Domingo, II do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (1Sm 3,3b-10.19), o chamado que Deus faz a Samuel. A Vocação é sempre uma iniciativa de Deus. Neste texto, destaca-se a importância do Sacerdote Eli que faz o papel de Guia Espiritual, ajudando Samuel a reconhecer a voz de Deus, pois, sozinho, ele não a reconhece. A Vocação de Samuel faz-nos pensar na vocação de cada um de nós. Deus nos chama e confia-nos uma missão, mesmo que, às vezes, finjamos não ouvir. Deus não desiste diante de nossa surdez. Samuel, depois de distinguir a voz de Deus, se coloca disponível e numa entrega total pelo reino: “Fala, Senhor, que teu servo escuta”. Cada um de nós deve aprender a distinguir a voz de Deus, sem confundi-la com a voz daqueles que produzem e mantêm uma estrutura de sociedade voltada para a escravidão e a morte.
Na 2ª Leitura (1 Cor 6, 13c-15a.17-20), o Apóstolo Paulo convida os cristãos a viverem de forma coerente com o chamado de Deus. Cada cristão deve saber discernir o que leva ao crescimento e à realização da pessoa humana, pois a imoralidade não atinge somente a pessoa que comete o ato, mas todo o corpo social. O Papa são João Paulo II, em sua Exortação Apostólica sobre Vocação e Missão dos Leigos na Igreja e no Mundo – CHRISTIFIDELES LAICI, citando o documento do Concílio Vaticano II (Gaudium et Spes), assim se expressava:
Tudo quanto se opõe à vida, como seja toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, a integridade da pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas para violentar as próprias consciências; tudo quanto ofende a dignidade da pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e de jovens; e também as condições degradantes de trabalho, em que os operários são tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e responsáveis; todas estas coisas e outras semelhantes são, sem dúvida, infamantes; ao mesmo tempo em que corrompem a civilização humana, desonram mais aqueles que assim procedem do que os que as padecem, e ofendem gravemente a honra devida ao Criador (CFL, 38 apud GS, 27).
No Evangelho (Jo 1, 35-42), vemos que João Batista dá testemunho de Cristo e o mostra aos discípulos como “Cordeiro de Deus”, vindo ao mundo para nos salvar. Temos, neste texto, o chamado dos primeiros discípulos e o modelo de seguimento de Jesus. Se os discípulos encontraram Jesus a partir do anúncio e do testemunho de outros, agora, terão, também, por missão, indicar a todos a pessoa de Jesus e o caminho a percorrer. Deus nos chama a cada instante, servindo-se de pessoas e situações, mas, ainda que a resposta ao chamado de Deus passe pelos irmãos, pela comunidade de fé, é a experiência pessoal com Jesus que nos revela a nós mesmos, como filhos amados e vocacionados a amar.
No decorrer da vida, buscamos muitas coisas e pessoas: ter, prazer, poder, casa, emprego, estudo, amigos etc. O ser humano está sempre em busca de algo ou de alguém. Os discípulos, neste Evangelho, também andavam buscando algo: “O que estais procurando?” É a pergunta de Jesus, convidando-os a permanecer com ele. Eles, então, decidem seguir aquele que foi apontado por João como o Cordeiro de Deus. Eles mesmos devem ver o lugar onde Jesus mora e descobrir seu jeito de viver. “Vinde ver”.
– Vinde: alimentar a fé (não a burocracia), experiência comunitária, acolhimento.
– Ver: motivação, atenção pessoal, clima de oração, fé, ações da comunidade, conscientização etc.
Descobrindo quem é Jesus, a pessoa dá testemunho dele e provoca outros a também dar o passo do seguimento. Hoje, também, Jesus nos desafia: O que estais procurando? Nossa resposta deve ser a mesma dos discípulos: ir, ver e permanecer com Ele, isto é, viver a maturidade da fé e não só sensacionalismo, carreirismo ou espetáculo.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Montagna é Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR