Um levantamento da Prefeitura de São Paulo aponta que, até outubro de 2022, foram registrados no município 56 surtos de varicela, doença mais conhecida como catapora. Ao todo, foram 213 casos da infecção nesse período na cidade, um aumento de 65% em comparação a todo ano de 2021. Os números servem de alerta, já que a catapora, causada pelo vírus Varicela-Zóster, é altamente contagiosa. Por isso, é importante se proteger e manter a carteira de vacinação das crianças em dia.
“A transmissão da catapora acontece de pessoa a pessoa, pelo contato direto, com secreções respiratórias e com as lesões de pele características da doença, que coçam bastante. Ela afeta principalmente crianças, embora a vacinação tenha reduzido essa concentração de casos na infância, e também suas características sazonais do aumento de casos na primavera. A única forma de prevenir a catapora é pela vacinação, e precisamos estimulá-la”, destaca Natalie Del-Vecchio, infectologista pediátrica e coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).
Vacinar é fundamental
A vacina que protege contra a doença é chamada tetra viral (SCR-V) e foi incluída no Programa Nacional de Imunização (PNI) do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2013. O imunizante, fabricado nacionalmente pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), protege ainda contra o sarampo, caxumba e rubéola. Crianças devem receber a primeira dose da vacina tetra viral aos 15 meses de idade, e um reforço da vacina varicela entre os 4 e 6 anos.
“A primeira dose da vacina já dá uma proteção de 85% contra a catapora. A segunda dose, que é igualmente importante, aumenta essa proteção para 97%. E caso ocorra a infecção pelo vírus, os sintomas serão muito mais leves. Uma criança não vacinada contra a catapora pode ter de 100 a 200 lesões de pele, por exemplo. Na criança vacinada isso reduz para menos de dez. A vacina é eficiente, segura e protege das formas graves da doença e diminui a necessidade de hospitalizações”.
A infectologista pediátrica faz questão de desmentir que a catapora seja uma “doença do bem”. “Antigamente, muitas pessoas incentivavam que as crianças pegassem catapora, para não sofrerem com a doença quando adultas. Mas assim como outras enfermidades, a catapora pode evoluir para formas graves e até levar à morte, mesmo em crianças saudáveis”, enfatiza. “Por isso, o contágio não deve ser estimulado, essa é uma orientação totalmente incorreta. Apenas a vacina protege contra a infecção”, completa.
A pandemia, no entanto, diminuiu a procura pelo imunizante nos postos de saúde e contribuiu para queda nas coberturas vacinais, o que representa um risco grande para a saúde coletiva. “Mesmo que a criança não tenha sido vacinada na idade indicada e que a vacina esteja atrasada, os pais podem e devem levá-la no posto de saúde, onde ela será imunizada e ficará protegida contra a catapora”, detalha Del-Vecchio.
Sintomas e complicações
Os sintomas da catapora, em geral, começam entre 10 e 21 dias após o contágio. O mais comum é o aparecimento de bolhas ou vesículas de conteúdo claro e bordas avermelhadas espalhadas pelo corpo, acompanhadas de coceira, febre baixa a moderada com duração média de quatro dias, mal-estar, cansaço, dor de cabeça e perda de apetite.
As infecções secundárias da pele são as complicações mais comuns associadas à catapora. A doença cria uma “porta de entrada” para bactérias, que pode causar infecções na pele, ouvido e até e encefalite, uma inflamação no sistema nervoso central. “As crianças acima de 13 anos e os adultos apresentam maior potencial para as complicações, a catapora pode ser mais grave nessas faixas etárias”, diz a médica. Além disso, pacientes imunossuprimidos (transplantados, que estejam realizando quimioterapia, pessoas que vivem com o vírus da Aids, dentre outros), recém-nascidos, e mulheres grávidas são grupos de risco da doença.
O paciente com catapora começa a transmitir a doença dias antes da primeira lesão aparecer. “Não há como saber, e isso é um grande perigo para a disseminação em creches e escolas, pois a catapora, pode rapidamente provocar um surto, se as crianças não estiverem vacinadas. O paciente continua transmitindo a doença até todas as lesões secarem, o que pode levar de 10 até 21 dias”.
O diagnóstico da doença é clínico, embora possa haver confirmação sorológica em casos mais graves. Aos primeiros sintomas é necessário procurar um serviço de saúde para orientação do tratamento e avaliação da a gravidade da doença. Também é importante isolar o paciente, para evitar a transmissão. Não há um tratamento específico, mas é importante ter cuidado com a higiene da pele, que deve ser lavada com água e sabão, assim como cortar as unhas da criança, para que ela não coce as lesões – o que aumenta o risco de infecção. Em caso de febre, o uso de ácido acetilsalicílico deve ser evitado pois pode gerar complicações. fiocruz