Comum, veremos, na 1a Leitura (Is 8, 23b-9,3), que, no século VIII, antes de Cristo, a Assíria dominava o Reino de Israel e impôs uma dura escravidão aos seus habitantes que, vivendo alienados numa cultura de morte, ficavam totalmente desestruturados e lesados em seus direitos elementares, vítimas das maquinações e dos interesses das classes dominantes. É neste contexto que o profeta atua e, em sua missão, diz que Deus libertará os oprimidos e trará a paz, anuncia um novo tempo, sonha com um povo livre, feliz e valorizado. “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu”.
Na 2ª Leitura (1 Cor 1, 10-13.17), o apóstolo Paulo diz que não devemos absolutizar pessoas e linhas pastorais. No fundo, ele está dizendo que cada pessoa ou grupo deve caminhar com a Igreja e não querer que toda a Igreja se reduza a seu estilo e mentalidade. O Papa Francisco assim se expressava quanto à ação missionária da Igreja em relação aos Movimentos: “Frequentemente trazem um novo ardor evangelizador e uma capacidade de diálogo com o mundo que renovam a Igreja. Mas é muito salutar que não percam o contato com esta realidade muito rica da paróquia local e que se integrem de bom grado na pastoral orgânica da Igreja particular. Esta integração evitará que fiquem somente com uma parte do Evangelho e da Igreja, ou que se transformem em nômades sem raízes” (EG, 29).
Cristo é o centro, e o que importa é viver a caridade. A opção por Cristo não é fazer e querer só aquilo que gostamos. Sempre digo aos paroquianos que a Igreja oferece aquilo que o povo precisa e não necessariamente aquilo que o povo quer e gosta. Na Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), o Papa Francisco chama a atenção quanto à atuação das pastorais e dos movimentos na Igreja:
“Dentro do povo de Deus e nas diferentes comunidades, quantas guerras! No bairro, no local de trabalho, quantas guerras por invejas e ciúmes, mesmo entre cristãos! O mundanismo espiritual leva alguns cristãos a estar em guerra com outros cristãos que se interpõem na sua busca pelo poder, prestígio, prazer ou segurança econômica. Além disso, alguns deixam de viver uma adesão cordial à Igreja por alimentar um espírito de contenda. Mais do que pertencer à Igreja inteira, com a sua rica diversidade, pertencem a este ou àquele grupo que se sente diferente ou especial” (EG, 98).
“Por isso me dói muito comprovar como nalgumas comunidades cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, se dá espaço a várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação, vingança, ciúme, a desejos de impor as próprias ideias a todo o custo, e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. Quem queremos evangelizar com estes comportamentos? Mas, se virem o testemunho de comunidades autenticamente fraternas e reconciliadas, isso é sempre uma luz que atrai” (EG, 100).
No Evangelho (Mt 4, 12-23), fecha-se o Antigo e abre-se o Novo Testamento. Jesus inicia sua atividade na Galiléia, lugar dos desprezados, pisados e excluídos, região distante do centro econômico, político e religioso do seu país. Neste ambiente, Jesus se torna presença de luz. A esperança da salvação se inicia justamente numa região da qual nada se espera. Ali Jesus chama à conversão, isto é, inaugura o seu Reino. É do sofrimento, do cotidiano, de dentro da escuridão da vida e da dureza das situações que Deus chama a perceber sua luz. A fé sempre será o verdadeiro remédio para os males do mundo.
Jesus chama pessoas para segui-lo e formar um mundo novo. Simão e André deixam a profissão; Tiago e João deixam a família. Seguir Jesus implica deixar as seguranças que possam impedir o compromisso com uma ação transformadora.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi – PR