Com a celebração da solenidade da Santíssima Trindade, concluímos o longo ciclo iniciado com o mistério da encarnação e nascimento de Jesus no Natal, no mistério de sua morte e ressureição na Páscoa, no seu retorno para junto do Pai na Ascenção e o envio do Espírito Santo em Pentecostes. Não podemos nos esquecer que com a encarnação de Jesus, o próprio Deus plantou sua morada no meio de nós e se fez humano, nascendo de Maria: ”A Palavra se fez homem e acampou no meio de nós” (Jo 1, 14). E tudo isto por um gesto de amor gratuito: “Deus amou de tal modo o mundo que entregou seu Filho único, para que quem nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Se Deus plantou sua morada no meio de nós, com a encarnação do seu Filho, a nossa frágil humanidade foi plantada no coração da Trindade, com a ida de nosso irmão Jesus para o seu seio, arrastando consigo nossa humanidade. O divino se fez humano em Cristo e o humano se faz divino ao nos incorporarmos a Cristo, como nos diz Paulo: “Não sabeis que todos nós que fomos batizados, consagrando-nos ao Messias Jesus, submergimos em sua morte? Pelo batismo nos sepultamos com ele na morte, para vivermos uma vida nova, assim como Cristo ressuscitou da morte pela ação gloriosa do Pai” (Rm 6, 3-4). A mãe ou a avó que começa a ensinar uma criancinha a rezar, pega sua mão, traça com ela o sinal da cruz na fronte e no peito, toca o ombro do lado esquerdo e depois do direito e junta suas mãos em sinal de prece, invocando ao mesmo tempo a SS. Trindade: “Em nome do PAI e do FILHO e do ESPÍRITO SANTO. Amém”! Concluímos também, normalmente, nossas preces, com um “Glória ao PAI, ao FILHO e ao ESPÍRITO SANTO, como era no princípio, agora e sempre, amém”! Pagola nos propõe como caminho para nos achegarmos ao mistério da Trindade, que indaguemos “como Jesus se comunicava com Deus, como o experimentava no dia a dia? Os relatos evangélicos nos levam a uma dupla conclusão: Jesus sentia a Deus como Pai e vivia tudo impulsionado pelo seu Espírito. Jesus se sentia ‘filho querido’ de Deus. Sempre que se comunica com Ele, o chama de ‘Pai’. Não lhe ocorre outra palavra. Para Ele, Deus não é só o ‘Santo’, como todos falam, mas o ‘Compassivo’. Não habita no templo, acolhendo só os de coração limpo e mãos inocentes. Jesus o capta como Pai, que não exclui ninguém de seu amor compassivo. Cada manhã sente o prazer de ver Deus fazer sair seu sol sobre bons e maus. O Pai tem um grande projeto no seu coração: fazer da terra uma casa habitável. Jesus não duvida: Deus não descansará até ver seus filhos e filhas desfrutando juntos de uma festa final. Ninguém poderá impedi-lo, nem a crueldade da morte, nem a injustiça dos humanos. Assim como ninguém pode impedir que chegue a primavera para encher tudo de vida”. O Credo que recitamos a cada missa dos domingos, que nos vem dos apóstolos e foi acolhido no Concílio de Niceia há 1.700 anos atrás (325 – 2025), centra a profissão de fé de todas nossas comunidades cristãs num grande hino à Trindade:
- “Creio em Deus Pai, criador do céu e da terra”.
- “Creio em Jesus Cristo, seu Filho único, nosso Senhor”.
“Ele é o grande presente que Deus deu ao mundo. Ele nos contou quem é o Pai. Para nós, Jesus nunca será um homem a mais. Olhando para Ele vemos o Pai. Em seus gestos, captamos sua ternura e compreensão. Nele podemos sentir Deus humano, próximo, amigo.
- “Creio no Espírito Santo, Senhor e doador da vida”.
“É uma grande graça caminhar pela vida batizados no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Nossa fé na Trindade muda não só nossa visão de Deus, mas também nossa maneira de entender a vida. Confessar a Trindade de Deus é crer que Deus é um mistério de comunhão e de amor. Não um ser fechado e impenetrável, imóvel e indiferente. Sua intimidade misteriosa é só amor e comunicação”. Leonardo Boff gosta de repetir: “A Trindade é a melhor comunidade”. Nos aproximamos de Deus, quando formamos comunidade. Afastamo-nos do Deus Trino, quando fazemos do egoísmo e da indiferença frente à vida e sofrimento dos outros, o norte de nossas vidas, quando nos recusamos a partilhar o que temos, com aqueles que estão na necessidade, quando não reconhecemos a diversidade de raça, línguas e crenças como um dom de Deus que nos desafia a construir a unidade na acolhida e no respeito das diversidades. O enviado do Pai, “o Senhor ressuscitado está na Eucaristia, alimentando nossa fé. Está na comunidade cristã infundindo seu Espírito e impulsionando a missão. Está nos pobres movendo nossos corações à compaixão. Está conosco todos os dias até o fim do mundo”.