Pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) desenvolveram um aplicativo para auxiliar a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) no combate a dengue, zika, chikungunya e outras arboviroses.
O Aplicativo para Controle Vetorial do Paraná foi elaborado por docentes e estudantes da UEM, por meio dos departamentos de Informática (DIN), de Estatística (DES) e dos programas de pós-graduação em Ciência da Computação (PCC) e em Bioestatística (PBE) da UEM.
O projeto de extensão, denominado “Uma Solução Tecnológica para a Vigilância Entomológica e Controle de Vetores das Arboviroses do Paraná”, ocorreu em parceria com o Instituto Federal do Paraná (IFPR) e recebeu financiamento do Fundo Paraná, por meio do programa Universidade Sem Fronteiras, vinculado à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti).
Em reunião nesta terça-feira (3), no Anfiteatro do Bloco C56, uma solenidade marcou a entrega simbólica do software à Sesa. Para a implantação efetiva do aplicativo, ainda são necessárias a adequação técnica e a compra de equipamentos, como tablets e computadores, pelos municípios, além da instalação de um servidor na sede da secretaria.
“É um software desenvolvido para apoiar os trabalhos dos agentes em campo em todos os municípios paranaenses. Este momento marca a entrega do produto e a finalização dos trabalhos da equipe do nosso projeto de extensão, financiado pelo Universidade Sem Fronteiras. Estamos muito felizes por chegar até aqui com o software pronto para uso e para ser implantado, dentro de alguns meses, pelos municípios paranaenses”, afirmou a coordenadora do projeto e professora do DIN, Thelma Elita Colanzi Lopes.
A demanda pela tecnologia partiu da própria Sesa, com intuito de modernizar e centralizar a transmissão de informações coletadas pelos agentes de controle de endemias do estado. A ideia é que o programa seja empregado em todos os municípios do Paraná.
Quando estiver em operação, a inovação será apresentada oficialmente à comunidade, em solenidade organizada pela Sesa, em Curitiba-PR. Esta cerimônia oficial de lançamento ainda não tem data para ocorrer.
Aplicativo
O objetivo do invento é otimizar e automatizar a transmissão de informações sobre a ocorrência do Aedes aegypti – mosquito vetor de arboviroses como dengue, zika e chikungunya – em todo o Paraná.
Além disso, o uso da tecnologia em todos os municípios do estado permitiria à Sesa centralizar o controle dos dados obtidos, de forma a agilizar a tomada de decisão pelos gestores públicos.
Atualmente, os municípios paranaenses usam diferentes sistemas e modelos para o envio de relatórios periódicos à secretaria, o que dificulta a interpretação dos dados. A chefe da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores da Sesa, Emanuelle Gemin Pouzato, exaltou a importância do invento para a rede de saúde do Paraná.
“Os agentes de controles de endemias e os gestores municipais precisam de uma ferramenta que dê esse suporte, que facilite a compilação dos dados colhidos a campo e que gere informação inteligível para auxiliar a tomada de decisões em tempo oportuno no combate à dengue. A ferramenta é magnífica, porque vai trazer essa agilidade, e nós daremos continuidade a isso dentro da Sesa”, projetou.
Desenvolvido nas versões aplicativo e web, o sistema permitirá o envio de dados em tempo real pelos agentes de controle de endemias. Segundo a Sesa, os mais de 5 mil agentes do campo do estado receberão tablets para o uso durante as visitas a imóveis. Os recursos para a compra dos equipamentos já foram repassados aos 399 municípios do Paraná.
Um servidor será instalado na sede da Sesa, em Curitiba, para centralizar o recebimento das informações enviadas – esta estrutura de hardware também será providenciada ao longo dos próximos meses.
Inovação e parcerias
A demanda da Sesa por uma tecnologia que centralizasse o envio das informações surgiu ainda em 2019, por meio da 15ª Regional de Saúde. Pesquisadores de diferentes Instituições de Ensino Superior (IES) começaram a trabalhar na criação de um “dashboard da dengue”, com participação da professora da UEM Eniuce Menezes, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Bioestatística (PBE).
Em 2022, já sob coordenação da professora Thelma Colanzi Lopes, 22 estudantes de mestrado e doutorado do PCC/UEM desenvolveram um protótipo do software. No mesmo ano, devido à necessidade de estudantes com dedicação exclusiva ao projeto, a coordenadora formalizou o projeto de extensão e submeteu a iniciativa a um edital do programa Universidade Sem Fronteiras.
Com a aprovação junto ao programa da Seti, dez estudantes de graduação do DIN e um profissional recém-formado passaram a receber bolsas mensais para a participação no projeto. Com a ajuda de uma profissional voluntária e sob a coordenação de cinco professores, o grupo de trabalho transformou o protótipo no Aplicativo para Controle Vetorial do Paraná, testado em agosto deste ano e, agora, entregue à Sesa.
“É uma grande virtude dos gestores públicos quando eles olham para a extensão universitária e percebem o potencial que ela tem. Quando conseguimos concretizar a extensão, podemos entregar benefícios para a sociedade, desenvolver o papel social que a Universidade tem e receber, em troca, o caráter formativo para os nossos alunos”, apontou o pró-reitor de Extensão e Cultura (PEC) da UEM, Rafael da Silva, que representou o reitor, Leandro Vanalli, na reunião de entrega do aplicativo.
Além da coordenadora, a fase final do projeto de extensão contou com a participação dos docentes do DIN Felippe Fernandes da Silva, Lilian Passos Scalaton e Raqueline Ritter de Moura Penteado.
Já o professor do IFPR câmpus Astorga, Douglas Lopes Farias, colaborou com a iniciativa desde o seu início, em 2019. Durante a cerimônia, ele celebrou a parceria entre as diferentes IES em prol de um objetivo comum. “Faz parte da nossa profissão desenvolver softwares como forma de sustento e carreira, mas este projeto nos deu a oportunidade de experimentar algo a mais. Entendemos que o nosso trabalho pode não somente nos realizar como profissão, mas pode também contribuir positivamente com a população, inclusive salvando vidas. E isso é uma experiência fantástica”, afirmou.
Ao todo, o projeto de extensão mobilizou 33 estudantes do DIN e do PCC/UEM ao longo dos últimos dois anos. Diretor do Centro de Tecnologia (CTC), ao qual a iniciativa está vinculada, Romel Dias Vanderlei comemorou a participação decisiva dos estudantes na ação. “Temos que envolver os alunos nesse tipo de projeto e levá-los, um pouco, para fora da sala de aula. A transferência de conhecimento, ainda mais por meio de um projeto de relevância como este, é importantíssima para a formação dos estudantes”, opinou.
Na mesma linha, o diretor-adjunto do CTC, Edwin Vladimir Cardoza Galdamez, destacou a colaboração entre diferentes setores e entidades para o desenvolvimento do trabalho. “Foram envolvidos professores e estudantes de diferentes departamentos, de graduação e de pós-graduação, e de diferentes instituições. Isso é muito importante para a Universidade, e espero que seja o primeiro projeto de muitos, tanto na Saúde como em outras áreas”, frisou.
O financiamento do projeto de extensão pelo programa Universidade Sem Fronteiras se encerrou em agosto. De acordo com a coordenadora do projeto, o objetivo dos pesquisadores é buscar novos recursos para dar continuidade à iniciativa. “Nossa intenção é seguir dando o apoio à Sesa nesta fase inicial, para que depois eles possam colocar o sistema em operação sem que continuemos envolvidos. Porém, pode ser que surjam novas demandas, como atualizações e novas funcionalidades, e neste caso, nós estaríamos à disposição”, projetou Thelma Colanzi Lopes.
Arboviroses
Conforme o Ministério da Saúde (MS), as arboviroses são um grupo de doenças virais transmitidas, principalmente, por artrópodes, como mosquitos e carrapatos. Além de dengue, zika e chikungunya, também são arboviroses o oropouche e a febre amarela, entre outras. A palavra “arbovirose” deriva de “arbovírus”, que significa “vírus transmitido por artrópodes”.
Essas enfermidades podem causar uma variedade de sintomas, desde febre leve até complicações mais sérias, algumas delas potencialmente fatais. Os principais vetores das arboviroses são os mosquitos – em particular, as espécies dos gêneros Aedes, Culex e Anopheles – e o inseto do gênero Orthobunyavirus. Ao picar uma pessoa infectada, eles se tornam portadores do vírus e, subsequentemente, o transmitem para outras pessoas com novas picadas.
Segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses, disponibilizados pelo MS, as enfermidades já causaram mais de 5,4 mil mortes confirmadas no Brasil em 2024 – quase 97% referem-se a casos de dengue. Ao todo, mais de 6,8 milhões de casos prováveis de dengue, zika, chikungunya e oropouche já foram notificados no país neste ano.
Presenças
Além das autoridades já citadas, também compareceram à reunião de entrega do aplicativo a coordenadora do curso de Informática da UEM, Luciana Andréia Fondazzi Martimiano; a coordenadora-adjunta do PCC/UEM, Valéria Delisandra Feltrim; e a enfermeira Greicy Amaral, representando a 15ª Regional de Saúde.
Em representação ao IFPR, estiveram presentes o diretor do câmpus Astorga, Ricardo Luiz Töws; o coordenador do curso técnico em Desenvolvimento de Sistemas, Emerson Rabelo; e o professor Narciso Américo Franzin. Também prestigiaram a cerimônia demais professores e estudantes envolvidos no desenvolvimento do projeto.