Viticultores protocolam abaixo-assinado solicitando a aprovação do PL que quer restringir o uso de herbicidas em Marialva

Viticultores protocolam abaixo-assinado solicitando a aprovação do PL que quer restringir o uso de herbicidas em Marialva

Cultivo de Uva na estrada Caraná prejudicado pelo uso do herbicida Crédito: Arquivo Pessoal

Na última segunda-feira (3/10), a Comafrut (Cooperativa Marialvense dos Fruticultores) protocolou na Câmara Municipal de Marialva um abaixo-assinado, com 665 assinaturas, de cooperados da cadeia de fruticultura e olericultura do Município, manifestando o apoio e solicitando a aprovação do Projeto de Lei nº 41/2022, que trata da restrição do uso de herbicidas mimetizadores de auxinas em Marialva.

 

A cooperativa afirma que, se aprovado, o projeto beneficiará diretamente 997 famílias que cultivam frutas, hortaliças e flores no Município. Para o presidente da Comafrut, Nelson Ricieri, “é necessário que a votação ocorra sem demora, o mais rápido possível. A situação é angustiante. Os produtores de frutas, flores e hortaliças precisam voltar a produzir com a esperança de colher”.

Os viticultores fazem críticas ao artigo 8º do projeto de lei que recomenda aos produtores de culturas de sensíveis a doação da cerca viva em suas propriedades rurais. Na opinião dos cooperados, esse artigo pode causar uma brecha na lei, já que nem todo produtor, em especial, os pequenos, conseguirão implantar a cerca viva, devido a falta de espaço.

O engenheiro agrônomo Werner Genta explica que a restrição proposta no projeto de lei abrange o grupo de herbicidas que atuam imitando (mimetismo) as auxinas, hormônios que controlam o desenvolvimento das plantas. Eles são utilizados, principalmente para dificultar o crescimento da buva, uma planta daninha de folha larga, que surge principalmente em produções de monocultivo. Esses produtos são altamente eficientes no controle das invasoras, mas são nocivas às hortaliças, flores e frutas, ou seja, planta de folhas largas. “Mesmo em baixíssimas doses, conseguem alterar o metabolismo causando danos severos a produção”, comenta.

O engenheiro agrônomo Danilo Cesar Volpato Marteli, representante da Unicampo, afirma que o maior problema com desse grupo químico é a deriva, tendo em vista que as formulações apresentam grande volatividade. “A volatização é o movimento da molécula na forma de vapor para fora do alvo. Essas micropartículas podem ser carregadas pelo vento e vapor, por alguns quilômetros e atingirem alturas bem superiores do que uma cerca viva, por exemplo”, esclarece.

Além da volatividade a engenheira agrônoma, Silvia Capelari, responsável pelo IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), relata casos de produtores que não seguem as orientações das bulas dos produtos e fazem a aplicação em situações de vento e umidade não permitidas, ou utilizam pulverizados com bicos de pressão inadequados.

Na opinião de Genta, o projeto de lei traz uma normativa que poderia ser resolvida do ponto de vista ético e moral. “Não devemos fazer com os demais aquilo que não gostaríamos que fizessem conosco. Um produtor de soja que respeitasse o trabalho dos seus vizinhos sabendo dos riscos que este grupo de herbicidas apresenta, não faria aplicações a distâncias inferiores a 2 mil metros de cultivos susceptíveis. Caso aprovada, essa legislação terá a função de agir quando a ética, que é o respeito pelo outro, não for considerada”, avalia.

Na opinião de Capelari é possível aos produtores de grãos o desenvolvimento do cultivo sem fazer o uso dos herbicidas mimetizadores de auxinas. “O custo poderá ser maior, mas continuarão tendo renda para sustentar suas famílias”. Por outro lado, a agrônoma acredita ser impossível produzir plantas sensíveis em áreas sujeitas à deriva desses agrotóxicos. “Principalmente as uvas, que são atingidas agora em setembro, quando é impossível recuperar a lavoura para produzir na melhor época de vendas, o fim de ano, tendo em vista que as lavouras afetadas apresentam sintomas como a diminuição de produtividade”, avalia.

A agrônoma faz um alerta caso os herbicidas hormonais não sejam restringidos: “Nossa geração poderá ser a responsável pelo fim da diversificação em Marialva, principalmente da produção de uvas”.  ASC/CMMarialva