O projeto de uma cadeira de rodas elétrica idealizada na Universidade Estadual de Londrina (UEL) recebeu menção honrosa no Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia 2021/2022, promovido pelo governo federal, por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Nesta edição, a premiação contemplou pesquisas relacionadas à Tecnologia Assistiva, área que abrange assistência, reabilitação e melhoria da qualidade de vida para pessoas com deficiência (PcD). O projeto da UEL se destacou na categoria Jovem Pesquisador, entre os países do bloco econômico sul-americano, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
A inovação é resultado de uma pesquisa desenvolvida por Willian Ricardo Bispo e Antônio Pires Leôncio Junior, no Curso de Mestrado do Programa de Engenharia Elétrica da UEL. Atualmente, os pesquisadores atuam como professores na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), no câmpus de Londrina, e na Universidade de Uberaba (Uniube), no Estado de Minas Gerais, respectivamente. O protótipo foi custeado com recursos próprios e doações de amigos.
Desenvolvido no Laboratório de Controle Avançado, Robótica e Engenharia Biomédica, no Departamento de Engenharia Elétrica da UEL, o estudo representa importante avanço na tecnologia de motorização, uma vez que proporciona mais autonomia e eficiência energética para manter a velocidade da cadeira, independente do peso do condutor e de obstáculos como calçadas e terrenos irregulares. A aceleração e o desempenho são aspectos importantes para o acesso a rampas, por exemplo, o que aumenta o conforto e a independência de pessoas com deficiência de locomoção permanente ou temporária.
No início deste ano, o projeto obteve concessão da patente pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), com possibilidade de produção em larga escala.
AVANÇO
Em relação aos produtos disponíveis no mercado, Willian destaca o avanço tecnológico na área de eletrônica, implementado nesse modelo de cadeira de rodas motorizada. “Propusemos avanços significativos na eletrônica de potência e no sistema de controle, que permitiu o acionamento de alto desempenho e baixo custo em motores de indução, que são mais robustos e de menor custo de manutenção se comparados aos convencionais. Esses modelos consomem menos energia na aceleração e frenagem quando comparados a motores de corrente contínua”, explica.
O modelo proposto utiliza motor elétrico trifásico movido por indução e corrente alternada, diferente de produtos existentes atualmente no mercado, que são acionados por corrente contínua. O conjunto também conta com uma unidade central de processamento (CPU, sigla em inglês para central processing unit), que abriga o software e toda a solução eletrônica. Semelhante aos periféricos de computadores e videogames, o controle utiliza dispositivo joystick ou interface de sopro e sucção, sem exigir esforço de quem conduz a cadeira (paraplégicos e tetraplégicos).
Para o professor Ruberlei Gaino, do Centro de Tecnologia e Urbanismo da UEL, é fundamental ampliar e fortalecer a produção científica e tecnológica. “A pesquisa nos leva ao descobrimento de novas ferramentas que possibilitam transformar e melhorar a vida das pessoas. A ciência também permite o avanço tecnológico, cada vez mais presente no nosso dia a dia, sendo de suma importância para o desenvolvimento sustentável”, afirma.
Também participaram da equipe de desenvolvimento do projeto, os professores Marcio Roberto Covacic e Newton da Silva, ambos ligados ao Departamento de Engenharia Elétrica da UEL. A linha de pesquisa conta com apoio da Fundação Araucária, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
CENÁRIO
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 8,4% da população brasileira acima de dois anos (17,3 milhões de pessoas) tem algum tipo de deficiência; e 1,7% da população (3,5 milhões de pessoas) com dois anos ou mais de idade utiliza cadeira de rodas, bengala, muletas, andador ou alguma prótese/órtese. O levantamento é da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, realizada pelo Ministério da Saúde. Nesse contingente que necessita de assistência, uma a cada quatro pessoas na faixa etária acima de 60 anos apresenta algum tipo de deficiência. AEN/PR