ARTIGO: Carta de um idoso à nova geração das Forças Armadas

Por Tadeu Bento França - Professor Universitário e Parlamentar Constituinte

BRIZOLA 100 ANOS: Constituinte Tadeu Bento França recorda o líder político do PDT 
                
                    "Um líder não morre, porque ele se pereniza nas marcas dos ideais que ficam para sempre", diz Tadeu Bento França

Tadeu Bento França, na foto, ao lado de Leonel Brizola

Sei que alguns de vocês se irritam, quando surgem críticas a oficiais ou generais do exército que, em 1964, afrontaram a democracia em nosso país e aqui implantaram a ditadura militar. Pensem bem: há pouco mais de 60 anos, vocês ainda não haviam nascido e não é justo que paguem por pecados que não foram praticados por vocês. A propósito, a maioria de vocês posicionou- se pelo respeito ao resultado das últimas eleições, sepultando os instintos ditatoriais do candidato derrotado nas urnas.
Entretanto, jovens Forças Armadas, a velha guarda golpista do passado merece ao menos a maldição da história, porque promoveram prisões de inocentes, torturaram, cassaram direitos políticos a exemplo de Juscelino Kubitschek, assassinaram ou recorreram ao desaparecimento puro e simples de desafetos.
Quem não conhece, por exemplo, o maior ideólogo do AI 5 e do SNI (Serviço de Investigação Nacional), general Golbery do Couto e Silva, ex-ministro da Casa Civil, que em nome do jargão “comando de caça aos comunistas “fez vistas grossas ante o massacre sem julgamento de milhares de brasileiros?
Nossa pátria, com a conivência do poder central, passou a ser o paraíso das multinacionais. Somente na Amazônia, o norte-americano Daniel Ludwig foi contemplado com um território maior que a Bélgica inteira. O endividamento externo em dólares tornou- se moda para garantir o ” milagre econômico” e o próprio ministro assegurava que empresa brasileira que pudesse dar trabalho para uma multinacional poderia sofrer as consequências. É o que a Philips holandesa, por exemplo, pretendia. De olho no crescimento da então brasileira Walita, foi só recorrer ao ” presidente” da norte-americana Dow Chemical, por coincidência o ministro da Casa Civil, que tudo ficou mais fácil. A Dow Chemical, então fornecedora de matéria prima da Walita brasileira, passou a repassar material de qualidade inferior e, em pouco tempo, a multinacional holandesa apoderou- se dá Walita de que era proprietário o casal brasileiro Waldemar e Lita.
Quantas vezes, o próprio cardeal- arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, esteve em audiência com o poderoso general Golbery do Couto e Silva, à frente de comissões de famílias de desaparecidos, em desespero ante o sumiço de familiares. Entre tantos, vale a pena lembrar- se do engenheiro civil e ex-deputado Rubens Paiva. Até hoje, a família Oliveira da cidade de Apucarana jamais descobriu o paradeiro dos restos mortais do jovem José dos Três de Oliveira. Arrancado à força de um congresso estudantil em Ibiúna, o máximo de informação obtida foi a de que o ” Preguinho”, apelido com o qual era conhecido, foi morto por um tiro no olho direito.
Na Argentina, as mães da Praça de maio conseguiram assistir ao julgamento de vários criminosos que lhes arrebataram os filhos e os lançaram do alto de aviões ao Rio da Prata. Lá, bebês foram roubados de prisioneiras logo ao nascer e os responsáveis foram julgados e punidos.
Aqui, as mães brasileiras foram silenciadas pela LEI DA ANISTIA 6683/79 proposta pelo presidente general João Figueiredo, ABSOLVENDO TODOS OS QUE PRATICARAM CRIMES POLÍTICOS OU A ELES CONEXOS.
Entretanto, jovens Forças Armadas deste século XXI, vocês não têm motivo e nem devem sentir vergonha no lugar daqueles que enlutaram há pelo menos seis décadas a democracia brasileira asfixiada.