No último mês de dezembro, recebi em casa a visita de uma amiga que viveu muitos anos em Maringá, mas que precisou voltar para sua cidade natal em função da precária saúde da sua mãe. Durante o tempo que esteve fora, sempre desejou retornar para o lugar em que fez sua carreira e criou seus filhos. Com a recente morte da mãe, este passou a ser seu objetivo. No entanto, durante os dias que esteve na cidade, visitando os amigos e fazendo planos para o futuro, sofreu um grave acidente, caiu em uma vala na esquina do paço municipal e, após uma cirurgia, precisou passar o réveillon no hospital.
O acidente a fez refletir sobre a qualidade de vida na cidade, disseminada, insistentemente, como a melhor do Brasil para se viver. Um mantra reproduzido cotidianamente pelos governantes locais em discursos e postagens nas redes sociais. A amiga, professora aposentada muito culta e inteligente, considerando o fato de sermos arquitetos e urbanistas, nos indagou sobre o estado lastimável da cidade. Na ocasião, relevei a crítica em virtude da sua mágoa particular devido ao acidente. No entanto, cerca de dois meses depois, passei a caminhar pelas ruas do centro com olhar mais atento e, de fato, pude observar como a infraestrutura e os serviços públicos estão aquém das demandas. Me lembrei de um arquiteto e ex-prefeito que dizia que a atenção do executivo local deveria estar sempre voltada
para o cotidiano dos cidadãos, referindo-se à qualidade das calçadas, da arborização, da coleta de lixo, dos parques, do transporte público, do abastecimento de água e esgoto etc. Uma boa cidade deveria permitir que seus moradores realizassem suas atividades diárias com conforto e segurança. No entanto, na contramão das cidades mais sustentáveis, outro título que o município quer alcançar, ao menos para explorar o marketing urbano, serviços públicos e infraestrutura deixam muito a desejar.
Para se ter um exemplo, na região do IPTU mais caro do município, a Zona 1, o passeio público que por não ser padronizado já proporciona perda de qualidade, está repleto de buracos e presença de mato entre juntas de piso e meio-fio; a exigência de pavimento tátil como recomenda a legislação é desrespeitada; a arborização requer reposição, deixando diversos tocos de árvores caídas expostos; e o lixo se acumula em muitos pontos, poluindo o ambiente. O transporte dos público, que no período eleitoral se cogitava que fosse gratuito, teve o preço da passagem acrescido em 20% e as ciclovias e ciclofaixas, belas na fotografia, ainda se constituem como trechos isolados e não uma rede de mobilidade. As lixeiras, instaladas a cerca de uma década, requerem um novo design, que não exponha o lixo e acumule água, favorecendo focos da dengue. Os edifícios são envelopados por propaganda, comprometendo sua arquitetura, e o barulho invade as residências independente da vontade de seus moradores. Inúmeras lâmpadas queimadas nas ruas, praças e parques escurecem a cidade a tornando mais insegura. Ainda falta muito para Maringá ser exemplo para o mundo e, o mais importante, uma cidade consolidada em qualidade de vida para seus moradores. Temos as ferramentas, nos cabe utilizá-las de forma eficiente. Deixemos de nos preocupar com a cidade virtual, das redes sociais, e vamos construir a cidade real, a cidade para as pessoas. Assim, quem sabe, de fato seremos mais acolhedores para novos e antigos moradores.