foto: ASC/CMM
Era o ano de 1929,quando sob a liderança de Lord Lovat, que uma delegação inglesa que veio a autodenominar- se Companhia Melhoramentos Norte do Paraná,chegou ao nosso Estado. Bem cedo, a empresa assumiu o controle ferroviário São Paulo- Paraná e, em troca da autorização do governador Affonso Alves de Camargo pela colonização das matas norte-paranaenses pertencentes à União, mas sob gestão administrativa estadual, implantariam trilhos até Guaíra, área de fronteira com o Paraguai. Os trilhos foram até implantados, mas jamais além da atual cidade de Cianorte. Muito se comentou a respeito da importância estratégica da ferrovia que, além de integrar as regiões norte-noroeste-oeste do Paraná, seria um suporte de escoamento da exportação agrícola do Paraguai por meio do porto de Paranaguá.
Entretanto, durante o governo do presidente general Ernesto Geisel, depois de uma ” bem sucedida” audiência concedida aos dirigentes da CMNP, paralisaram- se as obras no trecho que seria Cianorte- Guaíra. É importante lembrar que os mecanismos de fiscalização a respeito das iniciativas dos generais presidentes eram extremamente precários. Finalmente, quem ousaria desafiar a fúria dos poderosos mandatários instalados no Palácio do Planalto? Eles eram absolutistas e, em nome do AI5, dispunham sobre a liberdade e a própria vida dos mortais comuns.
O pior é que a maldição que recaiu sobre a ferrovia Cianorte- Guaíra há mais de quarenta anos não foi um desastre isolado, mesmo porque a praga foi de alcance nacional. Uma a uma, foram progressivamente desativadas as estações ferroviárias por todo o Brasil. Muitas delas foram destruídas; outras, transformadas em museus ou casas de cultura. Algumas “marias- fumaças” foram preservadas para o deleite turístico de futuras gerações.
Enquanto os presidentes generais fincavam os pés no desprezo pelas ferrovias e criavam no país a extrema dependência rodoviária, os EUA, a Europa e as naçôes mais importantes da Ásia assumiram o transporte ferroviário como alavanca fundamental para o desenvolvimento.
A ditadura militar brasileira eliminou 4.881 quilômetros de trilhos sem o menor escrúpulo. O mato que hoje cobre a rodovia transamazônica, serviu para ocultar também as suspeitas de corrupção dos intocáveis déspotas. Para eles, o Brasil seria hegemonicamente estradeiro. De que importariam o sem- número de acidentes fatais nas estradas, o preço altíssimo dos combustíveis ou a perda de alimentos durante o transporte indiscutivelmente mais caro?
Relegada ao abandono, da ferrovia Cianorte-Guaíra nada restou a não ser um armazém velho e imenso que foi construído em Cruzeiro do Oeste, para servir de apoio logístico a um investimento que nunca saiu do papel.
Tadeu França
ex-deputado federal constituinte