Continuou nesta quarta-feira (19) o interrogatório do réu acusado de mandar assassinar o Auditor-Fiscal José Antonio Sevilha, há 17 anos, em Maringá (PR). No dia anterior (18), os debates recomeçaram acalorados por parte do Ministério Público e do acusado.
Um dos pontos levantados se deu em torno da negativa dele ao ser questionado se tinha o interesse em esvaziar o galpão de mercadorias na noite do crime contra o Auditor. O motivo seria evitar a possível apreensão de produtos pela Receita Federal, que estava finalizando um processo de averiguação contra a empresa por crimes fiscais.
Apesar de confirmar uma operação de carregamento de 12 carretas, que saíram de Maringá entre a noite do dia 29 de setembro, quando ocorreu o crime, e a madrugada do dia 30, o réu explicou aos jurados que esse era um procedimento normal, em virtude da proximidade do Dia das Crianças.
Porém, na reapresentação do depoimento da gerente e ex-funcionária dele à Polícia Federal, o promotor Fabrício Carrer mostrou aos jurados que ela disse ter recebido uma ligação do próprio réu solicitando que providenciasse o esvaziamento do galpão com objetivo de proteger a carga de eventual apreensão da Receita.
O interrogado negou o fato e tentou desqualificar o depoimento da testemunha, chegando a dizer, inclusive, que ela poderia ter sido pressionada pelo Ministério Público à época para relatar inverdades, o que foi rebatido de forma veemente pela promotoria presente na sessão.
Ele também foi questionado sobre o motivo de sua esposa e a gerente da Gemini, sua empresa, terem procurado Sevilha na Receita Federal no mês em que ele foi assassinado. O réu disse que ambas estavam preocupadas com o futuro dos negócios e que, no caso da gerente, a conversa estaria relacionada ao trabalho social que a empresa fazia na cidade, considerado de relevância por ela.
Outro ponto bastante emblemático para o réu foi o questionamento sobre a coincidência nas datas em que outros três acusados pela morte do Auditor, contratados por ele para supostamente investigar desvio de cargas de sua empresa, estiveram em Maringá, justamente quando ocorreram situações inusitadas na rotina de Antonio Sevilha. Em uma delas, o carro da vítima teve um dos pneus esvaziados.
A outra ocasião ocorreu quando a gerente da empresa do réu ligou na Receita perguntando se o Auditor estava na cidade naquele período. Por fim, foi constatado que o trio também esteve na cidade no momento fatídico, que foi o dia da morte do chefe do setor de Controle Aduaneiro da Receita Federal.
Esse e outros questionamentos foram respondidos de forma pormenorizada pelo réu, assim como o fato de ter admitido que não via problema em presentear agentes públicos, ao entregar o aparelho de som na casa do Auditor-Fiscal, e o de que tinha conhecimento da existência de interposição fraudulenta, ou seja, de “laranjas” em seus empreendimentos.
Da parte da acusação, o réu respondeu a perguntas direcionadas a operações de comércio exterior e a possibilidade de ele estar envolvido, como sócio oculto, com uma empresa investigada pela equipe especial de fiscalização da Receita Federal constituída após a morte de Sevilha. Na ocasião, ele negou, embora tenha admitido que a empresa investigada era sua fornecedora e importadora de produtos.
Ao advogado de acusação, o réu admitiu, porém, que sua empresa foi investigada pela Polícia Federal e pela Receita Federal, desencadeando a operação “Camaleão”. O resultado foi a apreensão de grande quantidade de mercadorias nos estoques da unidade de Maringá e na sede, localizada em São Paulo. Pelas infrações, a empresa foi autuada e multada em alguns milhões.
Continuidade das oitivas
Esse é o segundo dos três interrogatórios dos réus acusados de envolvimento na morte do Auditor-Fiscal José Antonio Sevilha. Após as oitivas, começam os debates entre Ministério Público, assistência de acusação e advogados de defesa. A decisão final ficará a cargo dos jurados, que votarão em uma sala secreta. Após essa fase, o juiz Cristiano Manfrim, proclamará a sentença para os acusados do crime do Auditor-Fiscal, se considerados culpados.
“Cada vez que eu venho acompanhar a sessão me passa um filme na cabeça e é um filme trágico. Por isso que eu tenho a expectativa muito grande de que isso termine logo”, disse o amigo e ex-vizinho do colega morto, Auditor-Fiscal Norival Trautwein.