O Oriente sempre fascinou e a China ainda desperta muita curiosidade e surpreende o mundo ocidental pela rapidez e a profundidade com que promove, dia a dia, mudanças que ajudaram a eliminar a pobreza e modernizar o país nos últimos 70 anos.
Foi para conhecer esse processo de transformação que o deputado estadual Goura (PDT) integrou, representando a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), a primeira comitiva parlamentar do Movimento Sem Terra (MST) em visita oficial à China, entre os dias 18 e 28 de março, a convite do governo chinês.
“A convite do MST e de seus parceiros na China, em especial a East China Normal University (ECNU) e seu departamento de International Communication Research Institute (ICRI), participei de uma jornada extraordinária para conhecer políticas públicas chinesas bem-sucedidas nas áreas do meio ambiente e agroecologia”, contou Goura.
Integração entre os países
O deputado destacou que as ações do governo chinês para o desenvolvimento rural, tecnológico e sustentável podem servir de inspiração aos governos do Paraná e do Brasil.
“Nossa visita teve como objetivo o fortalecimento das redes de integração na perspectiva de aprendizado mútuo entre nossos países. Para nós foi um contato direto com políticas públicas existentes na China que promovem o processo de revitalização rural como estratégia de eliminação da pobreza e modernização do país”, destacou Goura.
As políticas de apoio das províncias mais desenvolvidas àquelas mais carentes e o investimento maciço em infraestrutura ferroviária, rodoviária e de serviços fundamentais como eletricidade, água, saneamento e internet são exemplos, segundo o deputado, a serem replicados no Brasil.
“Conhecemos as estratégias chinesas para erradicação da extrema pobreza e as políticas públicas que transformaram a China em referência global de prosperidade e redução de desigualdades”, afirmou.
Agricultura digital
Segundo ele, a visita à empresa estatal Sinomach, que desenvolve a integração de dados na agricultura digital, que envolve o uso de dados para otimizar práticas agrícolas, mostrou que é possível estabelecer parcerias.
“Essa experiência de conhecer as tecnologias que aumentam a produtividade agroecológica feitas com parcerias entre empresas, universidades e associações chinesas é um exemplo que pode ser replicado no Paraná”, disse.
“Temos que desenvolver uma agenda para trazer essas inovações ao Paraná. Com essa viagem, ficou claro que é possível desenvolver intercâmbios em áreas como segurança alimentar e desenvolvimento rural sustentável, com foco na transferência de tecnologia e práticas chinesas para nós”, afirmou Goura.
Economia verde
Temas como a economia verde, que integra gestão de resíduos, reflorestamento, redução da poluição e o apoio à agricultura familiar e à agroecologia, foram centrais na visita da comitiva de parlamentares do MST. Eles conheceram as pesquisas para transformar resíduos orgânicos em biofertilizantes.
“Tudo está integrado, do sistema de reciclagem orgânica a priorização do transporte coletivo, para o desenvolvimento de cidades sustentáveis e ambientalmente corretas”, disse Goura. “O exemplo chinês de biofertilizantes a partir de resíduos e investimento em transporte ferroviário servem de modelo para cidades paranaenses.”
Um dos projetos envolve o MST e a China Agricultural University (CAU), uma das instituições de ensino e pesquisa mais prestigiadas da China na área de ciências agrárias e afins, no desenvolvimento de uma sofisticada tecnologia de tratamento de resíduos orgânicos para geração de bioinsumos, visando uma agricultura livre de agrotóxicos.
“Essas parcerias com universidades também incluem colaborações com empresas estatais chinesas de maquinário agrícola, que desenvolvem equipamentos de pequena escala adaptados às necessidades de propriedades familiares e assentamentos como os do MST”, explicou o deputado.
Goura disse que as negociações que podem levar essa tecnologia de compostagem inovadora para o Brasil estão em andamento. “É uma tecnologia que tem capacidade de reduzir enormemente o tempo de compostagem”, informou.
“Aplicar esse tipo de novidade tecnológica pode significar uma verdadeira revolução em nossas cidades, que carecem de uma política pública de compostagem urbana. Uma tecnologia dessas significa economia de dinheiro público, efetividade ambiental, com benefícios múltiplos: ambientais, sociais e econômicos.”
Segundo dados do MST do Paraná, existem 20 mil famílias nos 320 projetos de assentamentos no estado. São 25 cooperativas, 64 agroindústrias e cerca de 100 associações, que produzem mais de 100 tipos de produtos beneficiados. São 5.400 famílias cooperadas e outras 30 mil famílias atendidas – entre assentadas, integrantes da agricultura familiar e de comunidades tradicionais.
Dilma Roussef e o Banco dos BRICS
A comitiva parlamentar do MST em visita à China também participou de reunião no New Development Bank (NDB), o Banco dos BRICS, com a ex-presidenta Dilma Rousseff, que seguirá por mais uma gestão até 2028.
Goura destacou a importância do BRICS e do banco de fomento NDB para fortalecer as redes de integração entre países do Sul Global. “Temos que aprofundar as relações possíveis entre países que foram colonizados, explorados e violentados por séculos e que precisam se apoiar mutuamente.”
“O BRICS pode ser muito mais do que apenas uma entidade da economia”, disse Goura. “Esse grupo de países pode ampliar e desenvolver em muito as trocas culturais e de conhecimentos, além da cooperação tecnológica e científica entre os seus integrantes e o mundo.”
“A presidenta Dilma alertou para a necessidade de aprofundar as relações Brasil-China além do comércio, fortalecendo laços entre países do Sul Global contra o neocolonialismo”, contou. Goura também lembrou que ela destacou a possibilidade de financiamento de projetos para os municípios brasileiros pelo NDB.
Atualmente, o BRICS é composto por 11 países membros: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia. O BRICS também inclui nações convidadas, os países parceiros, que são: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.
Interior da China
A vista à China começou por Xangai e seguiu para região do lago de Taihu na antiga capital do império, Nanjing e depois Suzhou. Goura conheceu o interior profundo e montanhoso da China na província de Guizhou ao visitar a cidade de Rongjiang.
“A Revitalização rural em Rongjiang, uma comunidade liderada por mulheres e um modelo agroecológico, me impressionaram. Essa visita à região que superou a pobreza com agricultura orgânica e digital deve ser um exemplo para o Brasil”, afirmou Goura.
Segundo ele, os projetos de revitalização rural unem esporte, turismo, infraestrutura, logística, digitalização e cultura para promover o desenvolvimento local, principalmente, com o Cun Chao, o futebol camponês.
“O Cun Chao é um motor do desenvolvimento. É tipo uma Superliga de Futebol Camponês. Um evento esportivo que funciona como estratégia de revitalização rural, que impulsiona economia, turismo e cultura em cidades pequenas, demonstrando o poder do esporte como ferramenta de transformação social”, destacou Goura.
Conversa com embaixador
Goura e comitiva também se reuniram com o embaixador do Brasil na China, Marcos Galvão, para conversar sobre as parcerias para a agricultura familiar e agroecologia. Os parlamentares também se encontraram com a equipe do Consulado-Geral do Brasil em Xangai.
“Foi uma reunião estratégica para levar políticas chinesas de desenvolvimento rural ao Brasil, visando prosperidade e igualdade. Discutimos caminhos para levar ao Brasil as políticas de vanguarda chinesas”, contou Goura.
Estratégia e cooperação
Na mesma linha do encontro na embaixada, os parlamentares participaram reuniões estratégicas para fortalecer a cooperação entre Brasil e China no campo da agricultura familiar com integrantes do Centro de Cooperação da China e do Centro Internacional para Alívio da Pobreza do Ministério da Agricultura e da Revitalização Rural.
Foram discutidos temas como reforma agrária, comercialização, mecanização agrícola e a produção de bioinsumos.
“Nessas reuniões ficou ainda mais claro a importância da agricultura familiar para ambos os países. A agroecologia foi apontada como um eixo central para o desenvolvimento e o fortalecimento das relações bilaterais no setor agrícola”, disse Goura.
Diplomacia popular
A visita da comitiva parlamentar foi possível porque o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) do Brasil possui um grupo de articulação com a China desde março de 2020. Segundo o deputado, é a diplomacia popular em prática.
“Esse coletivo atua na construção de pontes entre as lutas da agricultura familiar, da reforma agrária, da agroecologia e da cidadania no Brasil com as experiências bem-sucedidas do socialismo chinês, que em 2021 conseguiu erradicar oficialmente a pobreza em todo seu território”, explicou Goura.
Comitiva parlamentar
A comitiva oficial dessa viagem à China foi composta, além do deputado Goura (PDT-PR), pelas deputadas estaduais Marina do MST (PT-RJ) e Rosa Amorim (PT-PE), pelos deputados estaduais Mauro Rubem (PT-GO) e Missias do MST (PT-CE) e pelos vereadores Edilson do MST (PT-PE) e Tito do MST (PT-PA).
“Foi extremamente gratificante e importante essa jornada de dez dias no território chinês junto a outros parlamentares que o MST elegeu nas últimas eleições ou são seus apoiadores, como é o nosso caso”, disse. “São dez dias que pareceram 10 meses.”
ASC/ALEP