Na Liturgia deste Domingo, II do Tempo do Advento, veremos, na 1a Leitura (Is 11, 1-10), que o sonho do profeta Isaías é que todos sejam revestidos do Espírito do Senhor, não só o Messias. Isaías tem consciência de que isso traria boas consequências: superação da desconfiança, do medo do outro; superação de um mundo triste, desumano, neurótico; superação de ver no outro um inimigo do qual temos que nos proteger. O profeta sonha com um mundo onde todos possam se relacionar como família de irmãos queridos, onde seja “um por todos, todos por um, todos por todos, o tempo todo”.
O profeta expressa esse sonho usando uma linguagem com símbolos radicais, ele visa uma sociedade ideal: sem medo, sem inimigos, sem ameaças. Esta utopia, desejo do coração, deve acontecer na história. Devemos caminhar para um mundo reconciliado que seja realmente a morada de Deus.
Na 2ª Leitura (Rm 15, 4-9), o Apóstolo Paulo nos explica o papel da Bíblia em nossa vida: “Foi escrita para nossa instrução, para que tenhamos firme esperança”. Não adiantaria saber todos os textos da Bíblia de cor e não colocar esses ensinamentos a serviço da vida.
No Evangelho (Mt 3, 1-12), devemos considerar alguns pontos como chaves de leitura:
1º – Qual é o papel do Profeta, isto é, qual é o papel do pai, da mãe, de um líder, enfim, de um educador evangelizador: ser seta, apontar Jesus, pregar a conversão – “Convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo”.
2º – O cristão deve apresentar ideais, projetos que levem à plenitude da vida, serenidade, harmonia. “Produzi frutos que provem a vossa conversão”.
3º – O líder tem consciência das dificuldades, consciência de ser uma “voz que grita no deserto”. Deserto é o lugar de provação, de purificação, meio, não fim. Implica formas diferentes de viver. É o lugar onde Deus educa seu povo com sinais. Deserto, hoje, é a Igreja, são as lideranças, são os cristãos que gritam, convocam e organizam o povo para fazer uma nova história. Para acolher os apelos de Deus, há que se despojar da mentalidade do pecado: “Se vocês não mudarem o vosso modo de pensar e agir vão todos perecer” (Lc 13,3).
Devemos ver, em João Batista, a própria Igreja, quando aponta os caminhos que precisamos endireitar em nós, na família, na sociedade e no mundo. O Batista nos ensina a ver as causas, o porquê alguém não anda na retidão, a não julgar somente pelas aparências. Ele denuncia: “Raça de víboras, produzi frutos”. João, isto é, a Igreja, vai ao encontro das pessoas para tirá-las do vazio em que se encontram pela falta de fé. Faz algumas interrogações: Quais coisas não andam direito? Por quê? Quais caminhos tortuosos estamos seguindo?
4º – Quem acolhe a voz de João Batista (A Igreja? Os descontentes consigo mesmos, com a sociedade, os que lutam, os que querem mudança, transformação: “Vinham… confessavam… eram batizados…”.
5º – Quem não acolhe? Os mantenedores da cultura da morte: “Raça de víboras, produzi frutos que provem a vossa conversão, vossa solidariedade e vosso serviço…”.
6º – Acolher Jesus é dar novo rumo às nossas vidas, traçar novos caminhos, “tomar a cruz e segui-lo”.
Deus vem a nós por meio de Jesus, para nos dar coragem e ânimo. Em Jesus, há um futuro melhor, há conserto, por maiores que sejam as tragédias, dificuldades e sofrimentos. Há esperança. Ele nos dá a garantia da vitória, mesmo se o placar do ‘jogo da vida’ nos for desfavorável, na fé, ao final, a vitória nos é assegurada. “Nele nós somos mais que vencedores”.
Neste advento, preparemo-nos para a chegada vitoriosa do Senhor. O Advento deve ser um tempo de grande preparação espiritual. A partir do Natal, Deus é revelado em Jesus: “Quem me vê, vê o Pai!” “Eu e o Pai somos um!” Natal é a esperança que se renova. “O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; e uma luz brilhou para os que viviam na região escura da morte”. Ou ainda: “O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo, convertei-vos e crede no evangelho”.
Se, de fato, o ‘Verbo’ se tornar carne em nós, nós não iremos preparar somente a cidade, o externo, mas o coração para a visita ilustre que vem nos trazer benefícios: a salvação. Que imagem e ambiente comunicaremos? Que impressão Ele terá de nós?
Preparemos o coração ouvindo a Palavra, rezando individualmente, nos grupos, na comunidade. A Palavra de Deus é a força para vencer o inimigo. “Um inimigo pode estar escondido em nossos aposentos”.
Preparamos o coração agindo, ajudando as pessoas: “Vocês não sabem que são templos de Deus e que o Espírito Santo de Deus habita em vocês?” Se alguém entrasse em nossos templos e violasse o Sacrário (sagrado), qual seria nossa reação? E o sofrimento das pessoas, não nos diz nada? O Concílio Vaticano II, no documento sobre a Igreja no mundo de hoje, nos diz: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (GS, 1).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi – PR