Na Liturgia deste Domingo, XIV do Tempo Comum, na 1ª Leitura (Ez 2,2-5), Ezequiel diz que todos somos chamados por Deus a desempenhar a missão de profetas. O profeta ensina em nome de Deus, ensina não só com a palavra (discurso), mas com o testemunho de vida. Não haverá humanidade nova, se não houver, em primeiro lugar, pessoas novas que firmaram suas vidas na potência divina. “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (PAPA PAULO VI, Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi sobre a Evangelização no Mundo Contemporâneo, 41).
O profeta não só fala coisas ‘amargas’, mas é aquele que anuncia, denuncia e propõe caminhos alternativos para que todos atinjam a dignidade humana. Devido à experiência com a Palavra de Deus, o profeta recebe o mandato de ir não só onde lhe agrada, mas também às realidades complexas: “eu te envio diante de um bando de rebeldes, gente de cabeça dura e coração de pedra”, por isso, muitas vezes, ele põe em risco sua própria vida. Não há previsão de elogios, adulações e aplausos. Apesar de tanto esforço, às vezes, se deparará com pouco resultado. Então, ele pode cair em grande sofrimento, pois prevê o futuro, analisando os fatos do presente.
O profeta pode ter a tentação de desistir e cair numa solidão profunda.
“Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir! Tu me dominaste e venceste… A palavra do Senhor tornou-se para mim motivo de insultos e escárnios, dia após dia… Maldito seja o dia em que eu nasci! Não seja abençoado o dia em que minha mãe me deu à luz!… Por que não me deu Ele a morte no ventre materno? Então, minha mãe teria sido o meu túmulo e o seu ventre permaneceria grávido para sempre! Por que saí do seu seio? Somente para contemplar tormentos e misérias, e consumir os meus dias na confusão?” (Jr 20,7-18).
Mas por ser pessoa de oração, o profeta recebe de Deus o alento e ternura de que necessita: “Naqueles dias, depois de me ter falado, entrou em mim um espírito que me pôs de pé”.
Em Deus, ele recobra as forças para prosseguir sua caminhada de fé e esperança:
“Antes que eu te formasse no ventre, te conheci, e antes que nascesses te consagrei e te designei como profeta às nações… irás a todos a quem eu te enviar e falarás tudo quanto eu te ordenar. Não temas diante deles, pois estou contigo… Ponho as minhas palavras na tua boca… te estabeleço sobre as nações e sobre os reinos, para arrancares e derrubares, para destruíres e demolires, e também para edificares e plantares” (Jr 1,4-10).
Na 2ª Leitura (2Cor 12,7-10), o Apóstolo Paulo vence o conflito interior e, ao seu redor, não se fecha em si mesmo, segue a caminhada confiando na graça e não em suas capacidades. Nós, também, podemos, pela oração, vencer as tentações e os obstáculos: “Tal combate e tal vitória não são possíveis senão pela oração. Foi na oração que Jesus venceu o tentador. Jesus se une a nós, nos guarda em seu nome, constantemente nos diz: Coragem eu venci o mundo” (CIC, 2849).
No Evangelho (Mc 6,1-6), Marcos nos questiona: Diante dos profetas que Deus nos envia, estamos dispostos a ouvi-los? A quem ouvimos? Não ter profetas é ruim, pior é não os reconhecer, rejeitá-los porque são humanos. Rejeitando o profeta, rejeitaremos a Palavra e o próprio Deus. Neste trecho do Evangelho, as pessoas rejeitam Jesus porque só enxergam a imagem que haviam construído de Deus, um Messias forte, um Deus do espetáculo, “ficaram admirados” (espetáculo não leva à fé os que estão longe, enaltecer os que estão longe é fácil), rejeitam Jesus pela sua humanidade e pela sua humildade, “filho de Maria, o carpinteiro e ficaram escandalizados”; não creem porque veem; debocham, não acreditam que um humilde possa ter capacidades, ideias. “Entre nós está e não o conhecemos”.Sabemos que Deus escolhe os fracos e humildes para confundir os fortes e poderosos e realizar suas obras. Devido à dureza do coração e a falta de fé, podemos concluir, com Jesus: “Santo de casa não faz milagres”, mas por quê? A culpa é dele ou é nossa?
Hoje somos convidados a renovar nossa profissão de fé, não apenas em Deus, mas também com quem convivemos, aí poderemos modificar o provérbio e dizer: “Santo de Casa também faz milagres”.
Tomemos cuidado para que o preconceito não nos feche o coração, pois, naquele tempo, muitos não perceberam a ação de Deus em Jesus. Vejamos a pessoa e não somente os ‘penduricalhos’.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Presbítero da Arquidiocese de Maringá – PR
Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças, Sarandi – PR