A resposta para a pergunta do título dessa artigo vale alguns milhões de reais, e ninguém tem. O FATO é que depois da vitória épica de ontem (3) contra o Confiança, um 3 a 2 com direito a virada e jogando com um atleta a menos desde os 24 minutos do primeiro-tempo, não dá para não aplaudir Jorge Castilho em pé por pelo menos 13 minutos, porque treze é o número de partidas invictas do Dogão. O técnico do Maringá Futebol Clube sustenta uma estratégia que contempla marcação individual o tempo todo, algo que muitos consideram ser uma proposta suicída, mas O FATO é que ele a faz funcionar “alla grande“.
Sobre a virada contra os sergipanos, nem tudo foram flores. No primeiro gol do Confiança ficou claro que se todo mundo estivesse 100% fisicamente, Valdir Júnior jamais teria carregado a bola do meio do campo até a entrada da pequena área passando por três Dogs e fuzilando o inculpável goleiro Rafael William. No segundo dos sergipanos, não foi o cansaço que levou Bruno Cheron que tinha acabado de entrar em campo a falhar na marcação. Talvez tenha sido só porque estava frio, talvez porque está sem ritmo de jogo, mas mais provável ainda é que seja justamente porque o Dogão tinha um atleta a menos em campo, e se é difícil sustentar a estratégia de jogo de Castilho jogando com o time completo, imaginem jogando em dez. O FATO é que em três das quatro partidas disputadas na Série C até agora, o time jogou com um a menos pelo menos por algum tempo.
É verdade que o técnico do Confiança Luizinho Vieira fez uma bola leitura da estratégia de Castilho; esperou que o Dogão viesse para o jogo, soube explorar espaços nas costas da zaga e o cansaço da maratona exaustiva que o clube maringaense enfrentou nos últimos sete dias. A “Batalha do VGD” e a também épica performance contra o Atlético Mineiro são na verdade vitórias, e nem é necessário explicar os porquês.
Há outra grande verdade à favor de Jorge. Ele conseguiu montar um elenco de respeito; que responde às necessidades em quase todos os setores, mas nem sempre foi assim; em 2024, quando o técnico sofreu com a falta de peças, sobretudo nas laterais, chegou a ter que escalar cinco zagueiros numa partida do Paranaense e foi muito criticado pela imprensa, mas ele estava jogando com o que tinha e sem reclamar.
A partir do momento que ele conseguiu preencher as posições com as qualidades adequadas, a música mudou, e seu time só perdeu o título do estadual nos pênaltis.
Mas não por isso se pode deixar de levantar questionamentos sobre o futuro do Dogão, pelo menos no longo Campeonato Brasileiro da Série C. A intensidade dos duelos mano a mano eleva o risco de sofrer gols e cartões, amarelos e vermelhos. Nas primeiras quatro rodadas da Série C, o time de Castilho viu as próprias redes serem violadas por cinco vezes, algo incomum para o Dogão. Quanto aos cartões, no mesmo período foram três cartões vermelhos; Cheron contra o Guarani, Ronald contra o São Bernardo depois de tomar dois amarelos e Buga contra o Confiança. O time também tomou oito amarelos; Buga, Cristovam, Moraes e Max Miller receberam amarelo contra o Guarani na estreia. Em Londrina, Moraes, Max Miller e Cristovam tomaram mais um amarelo e já ficaram pendurados; no VGD sobrou amarelo também para Tito e Pingo.
Além da coleção de cartões que até agora fez com que sem contar os acréscimos, o MFC jogasse 78 dos 360 minutos regulamentares das quatro partidas com um a menos, há outra preocupação. Será o forte elenco de Castilho vai aguentar o baque da empreitada por mais 15 rodadas sem que as lesões comecem a aparecer como fruto da grande exigência física de jogos, treinos e viagens ?
A resposta para essa pergunta vale muitos milhões de reais, pois serve a responder a questão do título desse artigo. Não dá para saber, mas a aposta de Castilho é ousada, assim como é o seu esquema. A resposta para a pergunta nós não temos, mas o sucesso do trabalho do treinador que chegou na Cidade Canção como Auxiliar Técnico, e que teve que se virar como fazem milhares de maringaenses trabalhando em transporte de aplicativo, está na proposta séria, no grupo, na humildade e na continuidade. Castilho é o segundo mais longevo no cargo de treinador, atrás somente de Abel Ferreira do Palmeiras. Com Castilho há um elenco de 23 jogadores e um grande grupo de trabalho que atua em modo muito organizado e coeso. Sobre isso ninguém pode dizer absolutamente nada.
Para sustentar o esquema do único técnico brasileiro que joga desse jeito, o elenco conta com o apoio de um competente staff que começa com o preparador físico Kauê Berbel e seu auxiliar Pantoja; Na lista tem ainda o fisiologista João Flosi. Além deles há também um nutrido departamento de saúde que tem como gerente Juliano Dallazen e os médicos Gilson Kuroda e André Peretti. Dois fisioterapeutas, Vinícius França e Lucas Catai também trabalham como loucos para recuperar a turma que corre sem parar. Rafael Carvalho é responsável pela nutrição do elenco e tem como auxiliar João Marcelo, Diego Almeida completa o time da saúde como massagista e trabalho não falta de jeito nenhum. Mas o entourage de Castilho tem ainda peças importantes como seu auxilar técnico Ivan Campanari, os analista de desempenho Luís Miguel, Matheus Guimarães e Giovanni Góes, o preparador de goleiro Adilson Francisco, e enfim, e não menos importante, tem o roupeiro Ricardo Ferreira. E como o Cão Feroz precisa comunicar bem, a assessoria conta com Rodrigo Araújo no comando, Wendel Gomes nas redes sociais e com o mítico fotógrafo Fernando Teramatsu. Por trás de todo mundo aí, tem o presidente João Vítor Mazzer e os investidores da SAF. Não dá para esquecer que nos próximos anos, o Jardim da Base vai começar a florescer, e aí tudo promete ficar mais colorido ainda.
Para quem gosta de analisar o feito através do números, a última partida que o Dogão perdeu foi em 15 de fevereiro desse ano. De lá para cá, nas 13 partidas disputadas entre finais do Paranaense, Copa do Brasil e Brasileiro, foram 7 vitórias e 6 empates. São 27 dos 39 pontos possíveis ou ainda 69,23% de aproveitamento. Uma hora esse time vai ter que perder, e até Castilho sabe que isso é salutar; isso porém não significará que o “Ponto Ótimo” do time terá chegado ao fim de seu prazo de validade. O futebol de hoje envolve muito mais gente do que se possa imaginar; é composto por toda a tecnologia disponível e possível. Não há mais espaço para dirigentes aventureiros, com ambições políticas ou golpistas; nem para boleiros descompromissados e boêmios, só para atletas e profissionais gabaritados e dirigentes profissionais; e nisso, o Dogão está dando lição em muitos clubes que estão por aí há muito, mas muito tempo mesmo. Quem lhes escreve é um incurável torcedor campeão com o Grêmio de Esportes Maringá em 1977; um time de outros tempos, que escreveu história, mas que foi derrotado pela falta de profissionalidade dos dirigentes que passaram por ele. O Dogão tem minha admiração e apoio, porque em Maringá nasci em 1967. Última coisa: Torcedor de verdade não chantageia o time, dialóga; está sempre junto com ele, quando o ingresso é barato e quando é caro, mesmo quando não dá para ir, mas está sempre junto, até o fim.