foto: Marquinhos Oliveira – CMM
Com a participação de apenas dez dos quinze vereadores da casa, a segunda sessão ordinária da Câmara Municipal de Maringá após o retorno das atividades parlamentares, paralisadas por cinco sessões no mês abril em obediência à portaria 090/2020 que suspendeu as atividades para evitar a proliferação da Covid-19, não ficará marcada pela parte central da sessão, a discussão dos doze projetos em pauta, mas pela parte final, quanto se votam os requerimentos de pedido de informações ao Executivo e pela parte inicial da sessão, o dito “pequeno expediente”.
O polêmico requerimento de informações pode até terminar no Ministério Público, já o tema alheio à ordem do dia, a participação de vereadores na cerimônia de repasse de verbas ao HU e a possibilidade de contágio pela Covid-19, nos leva somente a reflexões sobre a oportunidade que temos de não participarmos de aglomerações, mesmo que dela participem somente gente importante. A discussão sobre esse tema aconteceu durante o pequeno expediente; primeira parte da sessão destinada a apresentação de temas livres. É neste momento que os vereadores podem apresentar questões de atualidade que estão fora do contexto da pauta a ser votada na sessão ordinária, mas nós vamos começar de traz para frente para que você caro leitor perceba a importância dos temas que no final das contas estão interligados, pois afinal, sempre de política se fala.
CESTAS BÁSICAS PODERIAM ESTAR SENDO USADAS PARA FAZER CAMPANHA ELEITORAL
Um dos onze requerimentos presentes na pauta esquentou o clima no final de sessão e tem tudo para terminar nas mãos do Ministério Público. Encabeçado pelo vereador Jamal Ali Mohamad Abou Fares (PSB) e assinado por mais quatro vereadores, o requerimento de informações aborda um tema picante não tanto pelo conteúdo do texto, mas pelas palavras pesadas proferidas no plenário por alguns dos assinantes, em especial pelos vereadores Jamal Fares (PSB), William Gentil (PSB) e Chico Caiana (PTB). No papel, os vereadores pedem ao prefeito que explique nos mínimos detalhes como é organizado o sistema que culmina com a distribuição de cartões alimentação e cestas básicas do programa de emergência, intensificado para atender famílias em condição de vulnerabilidade durante a pandemia do Coronavírus.
Os detalhes do requerimento podem ser lidos no texto original do requerimento printado do site da Câmara.
Assinam o requerimento de informações os vereadores Jamal Fares, Chico Caiana, William Gentil, Flávio Mantovani e Jean Marques
Fares, vereador que encabeça o requerimento usou os cinco minutos disponíveis para ilustrar o objetivo do requerimento que pode ser lido acima para dizer que está recebendo denúncias de que “há pessoas se aproveitando da pandemia” e que entre essas pessoas haveria muitos servidores da prefeitura em cargo comissionado. “Recebi várias fotos de alguns assessores de vereadores entregando cestas básicas, inclusive de alguns vereadores presentes nessa casa”, apontou o dedo o vereador do PSB sem citar nomes dos edis ou assessores supostamente envolvidos. Para o vereador, a responsabilidade de entregar tais cestas é dos onze CRAS – Centros de referência e assistência social do município e não de pessoas ligadas em qualquer modo à administração municipal.
“Espero que o Executivo responda rápido, pois se não obtivermos resposta até dia 12 de maio terei que levar essa denúncia ao Ministério Público”, ameaçou o vereador.
“Espero que o Executivo responda rápido, pois se não obtivermos resposta até dia 12 de maio terei que levar essa denúncia ao Ministério Público”, ameaçou o vereador Jamal Fares (PSB)
A colocar mais lenha no fogo, se ocupou o vereador do PSB, William Gentil, que disse: “Recebi muitas denúncias e assinei o pedido de requerimento porque tem muitos políticos que não tem vergonha na cara e mandam pessoas de sua confiança entregar cestas básicas que foram eles que compraram, que foram compradas pela prefeitura”. O vereador diz ainda que possui provas do que diz. “Temos vídeos e áudios de funcionários em cargo de confiança, encostando a caminhonetinha da prefeitura e dizendo; estou entregando essa cesta básica porque (determinado político) pediu para trazer para você”, relatou Gentil omitindo os nomes das pessoas que teriam participado de tais atos.
Escolhido recentemente pelos vereadores para monitorar as compras de itens relacionados ao combate da pandemia da Covid-19, o vereador do PSB, sugere que há indícios de superfaturamento nas compras feitas sem licitação devido à situação de emergência. “Nós rastreamos e descobrimos que foram compradas máscaras por R$ 27,00 no início, agora foram compradas por R$ 10,90, isso significa que a comissão de controle está obtendo resultados”, comentou o vereador que concluiu dizendo, “quem não deve não teme e vai dormir tranquilo, tem cargo de confiança na prefeitura que agora é candidato a vereador entregando cestas básicas nos bairros com maior cara de pau”.
As denúncias que de acordo com William Gentil e Jamal Fares, envolveriam assessores de vereadores além de CCs da prefeitura, fez com que o vereador Mário Verri intervisse para pedir ao vereador que citasse os nomes.
“Assinei o requerimento na maior boa vontade” disse Verri, “mas se o senhor tem nomes de quem fez isso, vossa excelência deveria ir no Ministério Público, porque levantar suposições é muito ruim. Se temos a informação que um agente público fez isso, temos que denunciar, isso é crime”, concluiu o vereador do PT que exortou Gentil a não jogar sombra sob todos os vereadores, assessores da Câmara e do prefeito.
O vereador William Gentil retomou seu discurso dizendo que tem provas e relatos de famílias e que tudo será levado ao MP no momento oportuno. A O FATO MARINGÁ, o vereador disse que há denúncias de situações obscuras em Iguatemi, Vila Vardelina, Cidade Alta, Tuiuti, Requião, Borba Gato e Moradias Atenas e que nos próximos dias, divulgarão nomes e provas.
Ao apagar das luzes da sessão, outro vereador signatário do pedido de informação, disse que presenciou situações que podem ser consideradas anormais no Conjunto Guaiapó. “Eu presenciei carros da prefeitura entregando cestas no Conjunto Guaiapó, eu presencei, reforçou o vereador do PTB Chico Caiana.
Além das assinaturas dos vereadores Jamal Fares (PSB), William Gentil (PSB) e Chico Caiana (PTB), o requerimento de informações aprovado com 9 votos à favor conta ainda com as assinatura dos vereadores Flávio Mantovani (REDE) e Mário Verri (PT).
A prefeitura de Maringá informa que desde o início da pandemia já entregou 12 mil cestas básicas além de 9590 cartões alimentação com crédito de R$ 90, cada, e que a iniciativa parte do protocolo regular da Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC).
PEQUENO EXPEDIENTE: VEREADORES NA CERIMÔNIA DO HU
O pequeno expediente é aquele momento em que os vereadores têm a oportunidade de abordar temas que não estão presentes na pauta de votação da sessão; o de hoje começou com o presidente Mário Hossokawa (PP), pedindo aos vereadores presentes de evitarem de usar a tribuna para as suas falas. “Se todos usarem o mesmo microfone, o risco de contaminação é maior”, explicou Hossokawa, exortando aos edis de fazerem uso dos microfones instalados em suas mesas.
AUSÊNCIAS E ESPERAS DE RESULTADOS
Ausências na sessão desta terça-feira, 28, os vereadores Sidney Telles (PSD), Altamir Antônio dos Santos (PODEMOS) e Odair de Oliveira Lima (PDT), que enviaram ofícios com uma justificava comum a todos: Aguardam resultado dos exames para Covid-19, já que participaram da cerimônia de sexta, 24, no HU, evento que contou com a participação do Deputado Federal Ricardo Barros (PP), que testou positivo para a Covid-19.
Os vereadores Belino Bravin e Professor Niero também não participaram da sessão. Bravin passou recentemente por uma cirurgia cardíaca e o Niero por fazer parte do grupo de risco.
PRESENÇAS E RESULTADOS
Presentes na sessão além do presidente da casa, vereador Mário Hossokawa (PP), seu homônimo Mário Verri (PT), Carlos Mariucci (PT), Alex Chaves (MDB), Jean Marques (Podemos), Jamal Fares (PSB), Flávio Mantovani (REDE), Onivaldo Barris (PSL), Chico Caiana (PTB) e Willian Gentil (PSB). Este último divulgou que o resultado do exame que fez para Covid-19 em um laboratório privado, deu negativo. “Não estou com sintomas”, disse o vereador que pediu para a população respeitar as regras e disse que mesmo com o resultado negativo pretende manter o distanciamento social. “Me arrependo de ter participado deste evento no final de semana que colocou em risco a vida das pessoas”, concluiu William Gentil.
O presidente Hossokawa se disse preocupado com o resultado do exame de Gentil. “Dizem que é necessário esperar cinco dias para se poder fazer o exame, e logicamente diante do resultado apresentado o senhor pode participar da sessão, mas eu fico preocupado pois não sabemos se esse resultado é definitivo, por isso agradeço aos vereadores que decidiram esperar a data justa para poderem fazer o exame”, observou o vereador.
O vereador Jamal Fares (PSB), pediu a palavra e como médico lembrou que os exames feitos em laboratórios podem produzir resultados falsos pois os anticorpos da pessoa que acabam de ser contagiadas podem interferir no êxito e que o ideal é a realização de uma tomografia para certificar a presença de lesões nos pulmões.
Outro vereador que pediu a palavra para falar sobre o tema mas o usou para tecer duras críticas à cerimônia do HU, foi Jean Marques (Podemos). Para ele, o evento do Hospital Universitário foi um ato político.
“A falta de necessidade de fazer uma cerimônia de inauguração era clara,” diz o vereador Mário Verri (PT). Maringá está parada há mais de um mês
e o setor de eventos está sangrando, aí vem o poder público e faz um evento político, uma inauguração de ala de hospital”, diz o vereador Jean Marques (PODEMOS)
“Maringá está parada há mais de um mês; o setor de eventos está parado e vai ficar parado muito tempo ainda, e aí na última sexta-feira, brilha um evento político de inauguração de ala de hospital”, inferiu o vereador. “Faça-me um favor”, continuou Marques em seu protesto, “o setor de eventos está sangrando e o poder público faz uma inauguração de ala de hospital; olhei minha agenda e decidi não ir”, concluiu Marques.
A dar anuência às palavras do vereador do Podemos veio o vereador do PT, Mário Verri que disse: “Inauguração de uma ala do HU que no final das contas não está funcionando e a falta de necessidade de fazer uma cerimônia de inauguração era clara”.